Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 04, 2008

Clóvis Rossi - Perder ou perder




Folha de S. Paulo
4/7/2008

Na viagem anterior a Tóquio, há quatro anos, cometi o desatino de fazer um vôo direto de São Paulo, pela velha Varig, com breve escala em Los Angeles. Suicídio puro: são mais de 24 horas entre avião e aeroportos, mais as 12 horas de diferença de fuso horário, o que dá 36 horas de mexida no relógio biológico. Como, depois dos 60, os relógios biológicos já não são nenhum Rolex, passei uma semana grogue.
Desta vez, passei três noites em Paris antes de encarar as 12 horas do vôo a Tóquio. Ao chegar, passo por cenas explícitas de derretimento do dólar. Há quatro anos, como o ônibus do aeroporto de Narita ao hotel só sairia em 40 minutos (e eu havia voado um dia e algo mais), quis usar um táxi. Custava o equivalente a US$ 200. Desisti e esperei o ônibus.
Agora, o ônibus tardaria duas horas. Desisti e tentei o táxi. O preço era basicamente o mesmo em ienes, mas, em dólares, subira para US$ 300. Cinqüenta por cento mais em quatro anos é algo que os brasileiros conhecemos bem, mas, para os norte-americanos, deve ser uma tremenda humilhação. Desisti de novo do táxi e arrisquei-me no trem, por um décimo do preço.
No trem, poderia ter saboreado a vingança das muitas vezes em que os americanos olhavam para os brasileiros como seres inferiores, incapazes de fazer sua moeda ser respeitada.
Pena que, para poder cobrir a cúpula do G8+G5 (Brasil, Índia, China, México e África do Sul), tenha sido obrigado a estudar a crise inflacionária que sacode o mundo. É um bicho tremendamente complexo, mas já está claro que um dos elementos importantes para a disparada dos preços do petróleo -que afeta quase toda a economia- é o dólar fraco, muito fraco.
Quer dizer: antes, pagávamos por nossa suposta ou real incompetência ou irresponsabilidade. Hoje pagamos pela farra deles.

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