O Estado de S. Paulo |
1/7/2008 |
Continua em vigor a política do câmbio flutuante. O que muda é a maneira como o Banco Central a vem conduzindo. O momento parece apontar para novas mudanças táticas. Em dezembro de 2004, o Banco Central anunciou que pintaria alguma sujeira na cotação do dólar. Interviria no mercado, o que por si só caracteriza uma “flutuação suja”, mas essa intervenção seria conduzida de forma a contemplar a observância de dois critérios: evitar a excessiva volatilidade das cotações que conturbasse os negócios e/ou compor as reservas internacionais do País. No entanto, essa regra geral não tem sido observada à risca. Em setembro do ano passado, o Banco Central nem olhou demais para a volatilidade interna nem para a necessidade de empilhar reservas. Simplesmente parou de comprar. Mas, a partir do mês seguinte, voltou às compras e assim prosseguiu até março deste ano. A partir daí até a semana passada, já encostadas nos US$ 200 bilhões, as reservas ficaram sem variações significativas. Os leilões de compra se repetiram diariamente, mas o Banco Central se limitava a operações irrelevantes. A falta de interesse por mais dólares aparentemente cumpriu o objetivo de deixar que a moeda americana mais barata ajudasse a política monetária (política de juros) no combate à inflação, na medida em que contribuiria para reduzir os preços do produto importado. Em outras palavras, tudo indica que novo critério passou a prevalecer na administração da “intervenção suja”. A novidade é a de que bastou que a cotação do dólar resvalasse para abaixo de R$ 1,60 para que voltasse a temporada de compra. Isso sugere que as autoridades da área já não olham muito para a necessidade de acoplar a política cambial ao contra-ataque à inflação e elegeram outra prioridade. Desta vez, o Banco Central não pode alegar que voltou a ser necessário cortar as asas da volatilidade, porque a volatilidade do câmbio não é especialmente maior do que a que existia nos períodos em que ele parou de comprar. Nem que continua a ser necessário amontoar reservas externas porque as próprias autoridades da área do câmbio têm alardeado que reservas a US$ 200 bilhões constituem nível mais do que confortável para enfrentar um déficit nas Contas Correntes ou crises de confiança como as que tomaram o mercado financeiro internacional de julho de 2007 a meados de março deste ano. Tudo isso está aí para concluir que o Banco Central opera o câmbio interno como se outros objetivos não confessados estivessem comandando as decisões. Um deles pode ser o da necessidade de reduzir a velocidade de valorização do real (queda do dólar) para as adjacências de R$ 1,50, como parece ser a tendência da hora. Este pode ser, de resto, um objetivo perfeitamente defensável, dada a crescente deterioração da competitividade do produto industrializado brasileiro no mercado internacional. O esgotamento da política formulada em dezembro de 2004 e esse ziguezague que não guarda proporções com a política enunciada criam certo desassossego e ambiente propício a jogadas especulativas, o que não deixa de ser ruim. Mas o Banco Central sabe disso e escolheu correr o risco e atuar na moita. CONFIRA Ficaram para trás - A reportagem da página B1 mostra que tanto em junho como no primeiro semestre todas as aplicações financeiras perderam para a inflação medida pelo IGP-M. Retorno financeiro negativo é novo fator de inflação porque aumenta o consumo. As pessoas vão às compras ou porque não está compensando aplicar ou porque é melhor comprar antes que os preços subam. Quem sustenta que o IGP-M não é adequado para medir a inflação por sua forte dose de preços no atacado (60%) apela para argumento discutível. Se é ruim, por que ainda é critério de correção do mercado financeiro? |
Entrevista:O Estado inteligente
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