Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 08, 2007

Villas-Bôas Corrêa

Tiroteio cruzado
de pólvora seca
O TEMPO SECO DE LONGO PERÍODO
do inverno que começa a despedir-se para a floração da primavera deve ser em parte responsável pela virulência dos debates travados nos mais diversos ringues: dos palanques da pororoca dos improvisos do presidente Lula aos revides irados da oposição. E contaminou o bate-boca que quebrou a proverbial serenidade do Senado com o episódio de lamentável burlesco da aventura amorosa do presidente, senador Renan Calheiros. Como mofino consolo, não há vítimas a lamentar além da verdade, virada pelo avesso no seriado de versões construídas e que não escaparam da troca de tiros com a munição chocha das bombinhas das festas juninas. O trono e o palanque da série de shows testemunharam os mais extravagantes enredos construídos pelo presidente Lula para explicar o inexplicável. Uma atuação soberba na hora redonda e minutos do inspirado discurso no 3° Congresso Nacional do PT. Em pirueta de fazer inveja à trupe do Cirque du Soleil, não pronunciou nenhuma vez a amaldiçoada e incômoda palavra mensalão, que driblou pela contramão no elogio rasgado aos companheiros e ao PT: "Ninguém tem mais autoridade ética, moral e política do que o nosso partido". Os companheiros denunciados como réus na histórica decisão unânime dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) por formação de quadrilha e corrupção foram delirantemente ovacionados pela assistência e acariciados pelo presidente, com as devidas e marotas cautelas: "Saio desse Congresso com a alma lavada. Sabendo que alguns foram indiciados pela Suprema Corte Brasileira". E a ressalva do empate: "Até agora, nenhum deles foi inocentado, mas também nenhum deles foi culpado". Ora, com o partido enterrado até o gogó nos megaescândalos do mensalão e do caixa 2, com uma penca de dirigentes com a corda no pescoço, risco de cadeia, cassação de mandato e inelegibilidade é preciso um prodígio de habilidade para inverter os sinais e mandar a evidência às favas. No aluvião de promessas de obras fantásticas para a recuperação em meses, no maior mutirão da nossa História, da rede rodoviária, das pontes aluídas pelos temporais, dos portos que se multiplicarão como camundongos, Lula joga a cartada da eleição do seu sucessor. Com o travo de amargura pela inviabilidade do terceiro mandato. Equilibra-se no arame oscilante com o risco de uma queda na serragem do picadeiro. De certo, por enquanto, só a contratação de 56.348 servidores para os três poderes, ao custo de R$ 3,498 bilhões. A administração vai explodir de obesidade. A pobrezinha da verdade passou por sérios apertos na extemporânea e inconveniente troca de acusações entre o governo e as Forças Armadas sobre o tema explosivo das torturas no negrume dos 21 anos da ditadura militar. O coro de indignação corporativa dos militares, em geral reformados, mas que repicou na nota dos ministros das três armas comete o erro crasso de tentar negar a evidência diante do testemunho dos que exibem as cicatrizes do pau-de-arara, do maçarico queimando a carne, das horas de interrogatório debaixo de pancadaria, dos choques elétricos, das taponas nos ouvidos. E o atentado do Riocentro não existiu? Vladimir Herzog não morreu em sessão de tortura, nas dependências do Doi-Codi de São Paulo? O presidente Ernesto Geisel não demitiu o general Ednardo d'Ávila Mello do comando do II Exército depois das mortes no Doi-Codi? São milhares as testemunhas ainda vivas. E os mortos também falam.

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