Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 22, 2007

Tropa de Elite, o filme que estreou antes nos camelôs

Um batalhão de cópias

O filme Tropa de Elite é alvo da pirataria
e se torna um fenômeno de marketing


Silvia Rogar

Divulgação
Conflito na tela e na vida real: DVDs do filme são vendidos a 10 reais em todo o país

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Trailer do filme Tropa de Elite

Tropa de Elite, que entra em cartaz no dia 12 de outubro, retrata a violência carioca sob o ponto de vista de um oficial do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da polícia do Rio de Janeiro. Dirigido por José Padilha, autor do documentário Ônibus 174, o longa-metragem relata a corrupção no meio policial e o cotidiano de quem invade favelas e enfrenta traficantes de drogas para ganhar a vida. Uma trama em que se misturam tortura, preconceitos, ódio e coragem verdadeira, aquela que coexiste com o medo mas o supera. Apesar da abordagem surpreendente, a grande revelação sobre o cotidiano brasileiro – e esta não estava no roteiro – foi que a pirataria ganhou uma dimensão inédita nas calçadas das grandes cidades do país. A estimativa é que 3 milhões de pessoas tenham assistido à versão semi-acabada. Para se ter uma idéia, A Grande Família, o maior sucesso entre as produções nacionais neste ano, teve público de 2 milhões de espectadores. Dois meses antes da estréia, o filme se espalhou pelos camelôs a preços que variaram de 5 a 10 reais. Aconteceu primeiro no Rio, mas se espalhou por outras cidades. Não há registro, no mundo inteiro, de um caso assim.

Uma cópia pirata foi parar na casa do ministro da Cultura, Gilberto Gil. Ele disse que ganhou o DVD, mas não assistiu ao filme. O diretor, José Padilha, foi a seu apartamento especialmente para conferir se era ou não verdade que o ministro tinha a tal cópia em casa. "Há quem diga que isso é a democratização da cultura. Para mim, a pirataria propaga a cultura da sonegação fiscal, da corrupção e do crime", diz Padilha a VEJA. Ele tem razão ao separar as coisas. Ao possibilitar uma agilidade inédita na troca de informações, de textos, de músicas, a internet colocou problemas novos para o controle dos direitos autorais. A Lei de Direitos Autorais brasileira, de 1998, precisa adaptar-se a essa nova realidade. Ela não permite, por exemplo, nem mesmo cópias de música para uso privado – e é um absurdo impedir um consumidor de ouvir em um tocador de MP3 as músicas de um CD pelo qual ele pagou. O tema é complexo e há muito tempo vem provocando discussões em todo o mundo. É natural que o Ministério da Cultura queira entrar nesse debate. Mas não é admissível que o ministro Gilberto Gil crie ainda mais confusão. Sua posição dúbia, principalmente no que diz respeito à flexibilização do direito autoral, não agrega. Quando um ministro de estado fala sobre o tema demonstrando leniência, desenha-se um quadro de rompimento institucional e de ameaça à lei.

A versão de Tropa que chega aos cinemas no mês que vem teve alterações. É cinco minutos mais longa que a pirata, além de ter correções de som, luz e cor. Há modificações pequenas na narração feita por Wagner Moura e duas cenas a mais. Quem precisou jogar mais pesado foi a Paramount, distribuidora do filme no país. O número de cinemas programados para exibir seu trailer subiu de 450 para 1 000, maior que o de Babel, que tinha Brad Pitt à frente do elenco. Já o circuito aumentou de 120 para 160 salas. Para o produtor de Tropa, Marcos Prado, ainda é impossível estimar o prejuízo. "O que vai acontecer com o filme no cinema é imprevisível, um mistério." Ninguém duvida que vai perder uma boa fatia de seu público graças à cópia criminosa. Na semana passada, descobriu-se que Tropa de Elite teve também uma estréia pirata. Começou a ser exibido em um obscuro cinema de Jundiaí, no interior de São Paulo, há duas semanas. Tudo para burlar o regulamento do Oscar, que só aceita a inscrição de filmes que tenham entrado em cartaz até 30 de setembro. Atitudes assim não são um bom exemplo, principalmente por parte de quem quer combater a pirataria. O surgimento de policiais íntegros nas tramas de Hollywood coincidiu com o momento em que a polícia americana começou a mudar para melhor. Dessa forma, os estúdios incentivaram a luta contra a corrupção. Há, no Brasil, um enorme campo a ser preenchido por bons exemplos.

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