Um impacto inesperado do aquecimento global: o início
de uma nova era de exploração das riquezas do Ártico
Michael Kappeler/AFP |
Glaciar de Sermeq Kujalleq, na Groenlândia: retração de 15 quilômetros em apenas seis anos |
A vastidão gelada acima do Círculo Polar Ártico há séculos fascina os exploradores com promessas de riquezas e glória. Devido ao clima inóspito, porém, a região permanece entre as derradeiras áreas intocadas da Terra. Mas isso está mudando rapidamente. O aquecimento global – e o conseqüente recuo das geleiras – desencadeou uma nova era de exploração no Ártico. Fotos de satélites divulgadas neste mês mostram que a camada de gelo flutuante no Oceano Ártico se retraiu 25% em relação à área mínima anterior, em 2005. Os sinais de atividade humana estão por toda parte. Em agosto, a Noruega inaugurou um campo de extração e processamento de gás natural e petróleo no Mar de Barents, a primeira instalação industrial desse tipo no Ártico fora do Alasca. A retração da camada gelada também permitiu, pela primeira vez, a navegação sem a ajuda de barcos quebra-gelos pela chamada Passagem Noroeste, entre a Europa e a Ásia, cruzando a calota polar.
Um estudo estima que a região pode conter 25% de todas as reservas de petróleo ainda desconhecidas. Com o preço do gás e do petróleo nas alturas, começou a valer a pena enfrentar as dificuldades da prospecção sob frio intenso. Naturalmente, a disputa política pelo controle do extremo norte tornou-se acirrada. No início de agosto, um submarino plantou uma bandeira russa feita de titânio diretamente sob o Pólo Norte, numa declaração simbólica de soberania. Na foto ao lado, vê-se Sermeq Kujalleq, o glaciar que mais perde massa no planeta. Só nos últimos seis anos, esse imenso rio de gelo da Groenlândia sofreu uma retração de 15 quilômetros. Boa notícia para os negócios, as mudanças são devastadoras para a fauna. De acordo com um estudo, com a redução de seu habitat, em 2050 a população de ursos-polares estará reduzida a um terço da atual.