Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 13, 2007

Míriam Leitão - Vigor do PIB



PANORAMA ECONÔMICO
O Globo
13/9/2007

A notícia é boa. O PIB do segundo trimestre veio abaixo das projeções, mas com um crescimento vigoroso em comparação com o mesmo trimestre do ano passado: 5,4%. Houve frustração em relação à agropecuária, mas a agricultura vai bem. Apenas a produção de café caiu. A melhor notícia é o aumento do investimento. O dado confirma que o Brasil vai crescer em torno de 5% este ano.

O segundo trimestre do ano passado foi o pior do ano, mas isso não empalidece a notícia. Bancos que costumam acertar mais na previsão projetavam um crescimento de 1% a 1,2% em relação ao primeiro trimestre do ano - e saiu 0,8% - e um número mais perto de 6% para a comparação com o mesmo período de 2006 - e saiu 5,4%. Isso também não empalidece os dados divulgados ontem.

O ponto de frustração em relação ao projetado foi o desempenho da agropecuária de apenas 0,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mas, curiosamente, o setor está bem: vai colher uma supersafra de grãos e está crescendo depois de anos ruins, tanto que o setor de máquinas agrícolas cresce a todo vapor, trabalha em três turnos para dar conta de todas as encomendas. Houve uma dificuldade de projeção por causa da metodologia, disse o economista Nilson Teixeira, do CSFB.

- Não temos acesso a todas as informações. Na agricultura, por exemplo, sabemos a safra, que está alta, mas não conseguimos saber o custo. Como o cálculo é feito por valor adicionado, fica mais difícil prever. Além disso, é muito difícil saber o desempenho da silvicultura e produtos florestais.

Octávio de Barros, do Bradesco, registra que o que caiu mesmo foi a produção de café: 18% de queda. Mas café é assim, o ano fraco sempre se segue ao ano bom. A safra maior é bianual.

- É preciso olhar os números com ressalvas porque a pesquisa que baliza o perfil da colheita é o censo agropecuário de 1996 - diz Octávio.

O economista-chefe do Bradesco sustenta que o resultado não tem nada de ruim:

- Ainda que tenha ficado no piso das expectativas do mercado, não pode ser classificado como um resultado ruim. Em primeiro lugar, porque cresceu pelo 22º mês consecutivo na comparação com o mesmo período do ano anterior e pelo 16º mês consecutivo em comparação com o mês imediatamente anterior. Um segundo ponto a ser considerado é que a composição do crescimento continua muito saudável, com predomínio do mercado interno sobre o setor externo. Além disso, os investimentos continuam crescendo mais do que o consumo das famílias.

Nilson Teixeira, do CSFB, aponta que, a despeito do número menor na agropecuária, os dados confirmaram a expectativa de forte crescimento do investimento. A formação bruta de capital fixo foi o principal crescimento dentro dos componentes da demanda: 3,2% em relação ao trimestre anterior e 13,8% em relação ao mesmo período de 2006.

Alguns bancos mantêm sistemas próprios de coletas de informação sobre preços e nível de atividade, pesquisas sobre quanto as empresas estão vendendo, contratando, produzindo. Esses dados mostram crescimento em eletrônicos, automóveis, construção residencial este ano. Há motivos diferentes explicando o desempenho, mas não é uma bolha de consumo.

O setor de máquinas agrícolas vive o melhor momento em muitos anos, mas esse ritmo de aumento não se repetirá sempre. É que as vendas e a produção deste ano estão sendo comparadas com um ano depressivo, que foi 2006. Há boas perspectivas do setor agrícola, que vai produzir este ano 133 milhões de toneladas de grãos, a maior safra do país. Os próximos dados do PIB podem mostrar bom desempenho do setor.

A produção e a venda de automóveis estão tendo um ano excelente, principalmente pelo desempenho do mercado interno. A crise internacional deteve o processo de queda das taxas de juros nas vendas de automóveis e o de alongamento; mesmo assim, os juros estão bem mais baixos que o histórico brasileiro e os prazos mais longos.

A venda de computadores está vivendo um boom há vários anos. O setor é beneficiado pela queda do dólar, que barateou o produto, pelo aumento da oferta de crédito e pela redução de impostos para o setor. O crescimento tem sido impressionante. Foram três milhões de computadores e notebooks vendidos em 2003. No ano passado foram oito milhões. Este ano a previsão é de dez milhões. Mais do que triplicou a venda.

Na construção civil há um aumento forte de lançamentos, ampliação do crédito, crescimento do valor de vendas, no que o setor define como sendo uma das melhores fases recentes. Aqui também houve uma conjugação de fatores: a estabilização, a queda dos juros, a redução setorial de impostos, o redutor da TR, a aprovação de leis que removeram obstáculos microeconômicos ao setor e o aumento de crédito se juntaram para criar esse bom momento.

Há outro fator positivo, que é o aumento do investimento. Ainda é substancialmente o aumento da capacidade produtiva das atuais fábricas e empresas, não novos empreendimentos, mas mesmo assim é positivo.

O setor privado está fazendo o melhor que pode com o que o país conquistou: prolongada inflação baixa, queda das taxas de juros, migalhas de redução de impostos para alguns setores, uma ampliação do crédito ainda tímida para padrão internacional. Mesmo assim, a economia do Brasil mostrou seu vigor. A economia deu uma boa notícia ao país. Quem sabe serve de consolo pelo lamentável resultado do Senado.

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