PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
11/9/2007 |
Seis anos depois do 11 de Setembro, o balanço não faz sentido algum. Morreram mais soldados americanos na guerra do Iraque do que no atentado às torres gêmeas. O governo americano já gastou na guerra uma quantia equivalente a várias vezes o PIB do Iraque. Além disso, mais de 20 mil soldados mutilados assombram os Estados Unidos. São a nova geração dos veteranos de guerra. A ousadia e a violência do atentado ainda chocam. O primeiro momento foi de uma avassaladora solidariedade ao povo americano, principalmente às vítimas indefesas atingidas no seu cotidiano de trabalho. Hoje já se sabe que, aritmeticamente, o governo George W. Bush, com suas escolhas, conseguiu tirar a vida de mais americanos do que o atentado de Osama bin Laden. Segundo o relatório final do National Commission on Terrorist Attacks (Comissão Nacional dos Atentados Terroristas), morreram ao todo 2.750 pessoas naquela tragédia, contando as que morreram no World Trade Center, no Pentágono, nos quatro aviões e as que morreram depois por terem respirado as toxinas liberadas no local do ataque. Muita gente contraiu doença respiratória, e mortes recentes foram reconhecidas como sendo conseqüência do 11 de Setembro. Na guerra do Iraque morreram até agora 3.771 soldados americanos, 169 ingleses e 129 de outras nacionalidades. Ao todo, 4.069 mortos. Sem falar nos mortos iraquianos, soldados ou civis. Há quem diga que o pior passou. Difícil apostar nisso. Vejamos só os números de mortos de soldados americanos nos meses de agosto: em 2003 foram 35; em agosto de 2004, 66 mortos; em agosto de 2005, 85 mortos; em agosto de 2006, 65 soldados mortos, e em agosto deste ano, 84 mortos. Nada indica que agora o governo americano começa a acertar. Nenhum dado, por mais aleatório, sustenta a idéia de que há luz no fim do túnel. Os Estados Unidos afundaram no pântano na Guerra do Vietnã, e nada parece indicar que eles conseguirão emergir vitoriosos das areias do Iraque. O que eles tiveram como troféu foi a queda do regime e a cabeça de um tirano, Saddam Hussein. Nenhuma arma de destruição em massa foi encontrada no país, desmontando o pretenso motivo da guerra. No Iraque houve o acirramento do conflito étnico interno; nos Estados Unidos aumentou a intolerância ao estrangeiro e ao pensamento discordante. Liberdades individuais de alguns grupos foram suspensas. O Iraque passou por quedas e altas fortes do PIB. Há números diferentes, dependendo da fonte, mas a maioria sustenta que houve uma queda de 30% em 2004, com alta de 50% em 2005. Depois, pequenas oscilações. A recuperação de 2005 se deu pela volta da produção de petróleo, que ainda não se normalizou totalmente. O PIB do Iraque é de US$50 bilhões. O custo direto orçamentário da guerra é de US$291 bilhões até o momento e previsão de gastar mais US$200 bilhões só para encerrá-la, num cenário otimista. Isso elevaria os custos diretos a perto de US$500 bilhões, dez vezes mais o PIB atual do país invadido. Há outras cifras, calculadas por institutos independentes, em torno de US$1 trilhão. A maior das cifras para o custo total da guerra foi feita pelo economista Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel, e por Linda Bilmes, professora de Harvard. Eles estimaram que o custo total direto e indireto - tratamento com os mortos e feridos, custo orçamentário, social, macroeconômico - chegará ao fim da guerra a US$2 trilhões. Logo que o artigo de Stiglitz e Bilmes foi publicado, parecia um delírio. Hoje ele nem parece tão absurdo como número final. Pode-se ponderar que essa não é a conta mais relevante e que a relação custo-benefício tem de ser avaliada de outra forma: quanto custaria não fazer nada e deixar o terrorismo se espalhar pelo mundo, impune, explodindo prédios, trens, estações de metrô? O terrorismo é o mais desafiador dos problemas da nossa era. Permanece sendo após a guerra do Afeganistão e a guerra do Iraque. Hoje, dia 11 de setembro, o mundo continuará com os nervos à flor da pele, assombrado pelo reaparecimento de Osama bin Laden, duas guerras, muitas mortes, bilhões de dólares depois. O trágico balanço é que nem a cara mais conhecida do terrorismo foi vencida até agora, com todo esse custo econômico e social. A única boa resposta à guerra teria sido criar um consenso internacional de luta contra o terrorismo. Essa onda majoritária formou-se na guerra contra os talibãs. Derrubado aquele regime tirânico e antes de fisicamente pegar o inimigo símbolo, Osama bin Laden, o governo Bush decidiu procurar o próximo inimigo e encontrou seu atoleiro atual. Do ponto de vista estritamente econômico, pode-se dizer que uma parte do boom mundial ocorreu pela resposta rápida dos bancos centrais ao atentado. Aprofundou-se o processo de queda das taxas de juros em todo o mundo desenvolvido, o que acentuou o crescimento mundial. Os bancos centrais evitaram que à tragédia humana se seguisse uma tragédia econômica. O governo Bush nada conseguiu evitar e ainda não sabe como e quando sair do Iraque. Os candidatos democratas não parecem também saber o fim dessa catástrofe. Como diria nosso mestre Zuenir Ventura: 11 de setembro de 2001 foi um dia trágico, que ainda não terminou. |
Entrevista:O Estado inteligente
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