O Globo |
14/9/2007 |
O Senado tem a tradição de, podendo, escapar dos traumas e choques de um julgamento interno de seus integrantes. Que se tenha notícia, até o evento desta semana apenas um senador acusado de falta de decoro enfrentara os votos de seus pares. Foi o político/empreiteiro Luiz Estevão, acusado de negócios desonestos. Mandaram-no para casa, e ele foi, sem tugir ou mungir. Outros, políticos/políticos, renunciaram para escapar ao julgamento. Como Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda (violação do sigilo da votação no julgamento de Estevão). Ou Jader Barbalho e Joaquim Roriz (corrupção). Renan Calheiros tem a duvidosa honra de ter sido o primeiro presidente da casa a ir a julgamento. Ganhou por cinco votos. Tecnicamente, uma diferença confortável - mas talvez nem tanto, para quem é julgado pelos seus pares e continuará a presidir seus trabalhos. Quem vê de longe tem o direito de ver nos números da votação um certo déficit de autoridade moral. E há o aborrecimento dos outros processos em que é pedida a cassação de Renan. O problema mais sério é a substância das acusações. A suposição de que uma empreiteira pagava por Renan a pensão da mãe de sua filha amparava-se quase exclusivamente no fato de que um funcionário da empresa entregava o dinheiro à moça todos os meses. Muito estranho, bastante suspeito - mas prova concreta e segura sobre a origem do dinheiro não se encontrou. Nas outras acusações, a documentação de crimes e irregularidades é maciça; não faltam depoimentos e provas materiais de que Renan construiu em pouco tempo um feudo econômico e político em Alagoas que não resiste a uma devassa contábil. Como ficou óbvio na história dos falsos compradores de seu gado. Deve-se concluir, então, que o senador ganhou a parada mais fácil e deve perder as seguintes? Santa ingenuidade. No mundinho habitado pelos políticos, a lógica é outra: se ele teve competência para vencer o primeiro obstáculo, só heróis insensatos teimarão em derrubá-lo. Heróis existem - mas a turma que entende de política e de Brasília aposta que serão poucos e roucos. Por fim: na mecânica da votação desta semana um dado é escandalosamente ilógico. Como explicar as seis abstenções? Uma vez convertido em tribunal, o Senado deveria votar segundo as provas. Para cada senador, se eram convincentes, era obrigatório condenar; se não eram, fosse em que medida fosse, absolver seria inevitável. Lógica e ética exigiam dos votantes uma das duas decisões. Mas seis senadores ficaram em cima do muro, fugindo ao cumprimento de sua obrigação. Por quê, para quê? Uma forma de dar a Renan uma vitória um pouco menos confortável? De evitar que a vitória lhe subisse à cabeça e passasse a desprezar a necessidade de cortejar aliados? Há diversas explicações possíveis, muitas até espertinhas. Nenhuma justifica o desperdício do direito de decidir. Foi mais uma coisa feia, muito feia, na tarde de um dia de variadas coisas feias, muito feias. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, setembro 14, 2007
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