O Estado de S. Paulo |
14/9/2007 |
Não fosse o cacófato, a melhor definição sobre o acerto entre o PT e o PMDB no tocante ao caso do senador Renan Calheiros seria a inversão do ditado segundo o qual uma mão lava a outra. No caso, várias mãos sujaram muitas outras. É injusto atribuir apenas às abstenções petistas e às pressões governistas a absolvição do presidente. Durante todo o desenrolar do drama dos últimos três meses e meio ficou muito patente a hesitação de alguns oposicionistas e o firme intuito de outros de optar pela salvação do presidente em detrimento da preservação da Casa. Em público, a maioria calou; mas no particular um ou outro - donos de posições de destaque na seara oposicionista - deixaram escapar insinuações desairosas em relação ao trabalho da imprensa e às posições daqueles senadores mais aguerridos, não por coincidência os mesmos Jefferson Peres e Pedro Simon, alvos de insinuações maldosa e covardemente veladas no discurso de defesa de Renan Calheiros, durante a sessão de quarta-feira. Nos bastidores, sempre que podiam, lançavam suspeições - sem dizer claramente do que suspeitavam - sobre aquelas duas figuras, incluindo no rol dos ironizados também os senadores Demóstenes Torres (pautado, segundo eles, por projetos eleitorais goianos), José Agripino e Eduardo Suplicy, segundo esses autores movidos pela luz dos holofotes. Ora, não pode ser um mero acaso a similitude de argumentos. Havia, e há, na oposição, gente fazendo jogo duplo. Não para atender a conveniências do governo, mas a interesses próprios. Além do discurso ameaçador do presidente do Senado indicar a posse de um embornal fornido de informações, na véspera e no dia da votação senadores receberam telefonemas de tradicionais financiadores de campanhas. O fato de ter companhia, porém, não livra o PT da responsabilidade. Não por ter tomado posição, mas principalmente por ter recorrido ao truque da abstenção. O partido sabia que fazia o mau combate, mas achou que podia fazê-lo por debaixo dos panos, pois o custo não seria tão alto. E qual a recompensa? Esta ainda está por acontecer e ocorrerá quando, e se, o senador Renan Calheiros resolver pagar a conta. Por ora Calheiros insiste em ficar, mas deverá ceder em breve, pois é trunfo que não pode ser gasto agora. Primeiro, observa-se a disposição e a força da oposição para obstruir a votação da renovação da CMPF. Se for real e se transformar mesmo num obstáculo, Renan Calheiros começa a operação-afasta. Ele diz que não sai, mas também insistiu em presidir a sessão do Congresso que votou a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2008 e recuou a pedido do Planalto quando um grupo de deputados fincou pé em recusá-lo como presidente da votação. Agora o episódio tem todo o jeito de que vai repetir-se. Inclusive porque os conselheiros mais experientes já dizem a Calheiros que o perigo passou muito perto e não vale a pena continuar dando sorte para o azar. E o que ganha o PT com isso? Muito: a presidência do Senado, na pessoa do vice, o petista Tião Viana. Somada à presidência da Câmara e à da República, não é nada, não é nada, é muito mais do que o governo poderia sonhar. Para Lula, o melhor dos mundos. Para o PMDB, uma promissória de valor inestimável. Ótica palaciana “O Senado resolveu o problema ontem. Para um presidente da República o que interessa é que o Senado volte a funcionar normalmente”, disse o presidente Lula, em defesa do acatamento sem contestações da absolvição de Renan Calheiros. “Eu não posso acatar o resultado só quando ele favorece aquilo que eu pensava”, acrescentou a título de aconselhamento cívico aos descontentes. Dois reparos: primeiro, a um presidente da República conviria interessar também a abordagem do tema da impunidade que, no limite, guarda relação com a segurança pública - só para abrir espaço a um outro enfoque, já que no âmbito da política o assunto causa desconforto ao Planalto. Por motivos óbvios. Segundo, é impossível fazer o cotejo entre a decisão do Senado - o “resultado”, referido por Lula - e “aquilo” que “pensava” o presidente, porque em nenhum momento ele disse qual era exatamente o seu pensamento a respeito. De vitórias Agora, na absolvição de Renan Calheiros, assim como na reeleição do presidente Lula, virou tese de sociologia política atribuir a “derrotas da imprensa” quaisquer decisões que contrariem constatações factuais a respeito de infrações éticas, criminais e malfeitorias de toda natureza. Seria o mesmo se o Supremo Tribunal Federal tivesse rejeitado a denúncia contra os 40 do mensalão. Significaria também uma “derrota da imprensa”. Diante disso, a questão que se impõe é a seguinte: trata-se de uma vitória de quem e do quê, da impunidade? Por ora, soa apenas a apologia do crime. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, setembro 14, 2007
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