Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 09, 2007

DORA KRAMER

Os infiéis na balança


Trata-se de uma imprecisão, para não dizer uma injustiça mesmo, atribuir exclusivamente aos 12 senadores do PT o peso da responsabilidade pela condenação ou absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros, na próxima quarta-feira.

Ali, na sessão "protegida" pelo sigilo, uma dúzia só não fará verão. Os petistas são 12, mas os democratas são 17 e os tucanos, 13. O PMDB tem 19 senadores, o PTB seis, o PDT quatro, o PR três, o PP, o PRB e o PC do B, um senador cada.

Somados todos os partidos, tirando o PT e o PMDB - já descontados os votos abertos pelos pemedebistas rebeldes Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos - seriam 63 votos em tese suficientes para absolver ou condenar o presidente do Senado.

Nesse plantel, há de tudo: gente convicta, gente dependente da direção dos ventos, gente que morde em público e assopra no particular. Nesse quadro, jogar nos ombros do PT a pecha de fiel da balança corresponde a subtrair dos outros uma responsabilidade que eles realmente têm, mas não querem assumir.

Amigos de Renan Calheiros há em todos os partidos. A maioria, inclusive, se mantém calada até agora. Alguns "acusados" de votar a favor da absolvição sentiram-se na obrigação de declarar voto contra.

Mas, sendo a votação secreta e a sessão sigilosa, não se poderá conferir quem joga na convicção ou quem evolui só para deleite da arquibancada.

Quando se põe o PT na berlinda, fala-se de 12 votos que podem ser importantes, mas não necessariamente decisivos. Há defecções na oposição e, para confirmar, basta ver que, dos 30 senadores do Democratas e do PSDB, não passam de meia dúzia, em cada um dos partidos, os que já externaram opinião.

Os infiéis a serem postos na balança extrapolam em muito a bancada petista.

Não que esta não deva ser cobrada, pois não se sabe até agora se seus três senadores que votaram pela cassação no Conselho de Ética representavam de fato a posição do partido ou se buscavam prestar um serviço momentâneo a um PT eticamente desgastado pela decisão do Supremo Tribunal Federal na semana anterior de processar próceres petistas por corrupção.

Mas, quando se põe o foco apenas sobre o PT, é grande o risco de se prestar um grande serviço a senadores cuja motivação para absolver não seria nem governamental nem partidária. Guardaria relação apenas com razões pessoais, cuja natureza real é, e permanecerá, de todos desconhecida.

O grande problema da sessão secreta reside aí: sem o cotejo dos prós e dos contras, os senadores podem se escorar no sigilo do painel e na inexistência de tribuna para não se manifestar publicamente e atender suas conveniências individuais como bem lhes aprouver.

Apoiados no regimento que eles mesmos aprovaram, podem fazer o que quiserem. Absolver ou condenar. Só não podem pretender transferir essa responsabilidade a 12 senadores num colegiado composto por 81.

Lições do abismo

O PT firma profissão de fé na democracia, mas na hora de aprender não vai buscar lições no mundo democrático.

Amanhã, uma delegação de 11 petistas embarca para Pequim com o intuito de saber como o Partido Comunista Chinês - vale dizer, o único da China - faz sua política de filiação e comunicação.

"É um investimento político", diz o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar. Donde resta saber no que investem os petistas e aonde pretendem chegar ao buscar aprendizado em partido totalitário.

É uma tentativa inútil de importação de tecnologia, dadas as diferenças de realidades entre Brasil e China.

Algo parecido já foi ensaiado no primeiro mandato de Lula. Sob o patrocínio do então chefe da Casa Civil, José Dirceu, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) quis importar o know-how na polícia política de Cuba, mandando agentes brasileiros para treinamento em Havana a fim de importar o sistema.

Divulgado, o plano foi de imediato arquivado.

Agora, como a viagem dos petistas à China é, ao que se sabe, custeada pelo partido, problema dos filiados do PT e da atração fatal de seus dirigentes por governos autoritários.

Tarô

Pouco antes de deixar o ministério da Agricultura, em 2006, Roberto Rodrigues disse a um grupo de jornalistas que a elevação dos índices de inflação estava contratada para 2008 por causa do aumento no preço dos alimentos. Na verdade, falava em "volta" da inflação.

À época, a previsão se confundiu com as pesadas críticas que o então ministro fez à visão do governo sobre o setor - um misto de preconceito ideológico, ignorância e incompetência - e deu margem à interpretação de que poderiam ser apenas fruto de uma irritação funcional.

Agora, a alta nos alimentos fez a inflação dobrar em agosto. O que não confirma, mas sinaliza na direção do previsto pelo então ministro da Agricultura.

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