Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 09, 2007

AUGUSTO NUNES SETE DIAS


Sete Dias: Um general ruim de mira


Não é só em poltronas de avião, dramaticamente hostis a passageiros com 1,90m e mais de 100 quilos, que Nelson Jobim não cabe. Esse espaçoso gaúcho também não cabe - jamais coube - em qualquer script que lhe cumpre seguir. Jobim excede, como apregoava aquele comercial de uma empresa petroleira.

Ministro do Supremo Tribunal Federal, vivia invadindo a esfera de atribuições privativas do presidente. Alçado à chefia do Judiciário, revogou a separação dos poderes com a invenção da Pastoral Parlamentar, concebida para socorrer mensaleiros aflitos. Ao deixar o STF, transformara o habeas corpus preventivo no outro nome da impunidade.

Optara pela aposentadoria prematura por não lhe interessar ser "mais um entre 11", explicou a amigos. Despido da toga, tentou candidatar-se a vice na chapa de Lula. O PMDB não o ajudou. Tentou a presidência do PMDB. Lula não o ajudou. Jobim matava o tempo nos pampas quando foi içado da obscuridade pela tragédia em Congonhas. Ali estava a solução para o colapso da aviação, decidiu o Planalto.

Topou de imediato o convite formulado por Lula. Nomeado ministro da Defesa, Jobim se dedicaria em tempo integral à gerência do apagão aéreo. Abrandada a crise medonha, e só depois disso, ficaria liberado para ocupar, gradativamente, os muitos espaços reservados ao titular do ministério.

Nos primeiros 30 dias, Jobim cumpriu o combinado. Capacete de bombeiro na cabeça, foi ver de perto o horror em Congonhas. Constatou que multiplicação dos pousos e decolagens resultara do ganancioso compadrio entre agentes federais e empresas. E partiu para a contra-ofensiva.

Passado um mês, Congonhas já não lembrava um campo de flagelados, o redesenho do mapa aeroviário estava quase pronto, o bombardeio da Infraero e da Anac fizera estragos animadores, as empresas enfim começavam a desconfiar de que a vida vale mais que o lucro. Um bom trabalho.

Agora era consolidar o controle da área conflagrada e intensificar a contra-ofensiva, teriam concluído comandantes com menos gula e menos pressa. Não é o caso de Jobim, informa seu desempenho nestes 10 dias. Convencido de que um ministro da Defesa tem outras prioridades a administrar além de apagões aéreos, suspendeu o avanço vitorioso para abrir frentes de combate em zonas sem turbulências. E começou a colecionar derrotas.

No lançamento do livro que revisita o período autoritário, comunicou aos chefes militares que, se alguém protestasse, haveria troco. Até então quietos nos quartéis, todos protestaram. Jobim achou melhor pedir mais dinheiro para as Forças Armadas e baixar no Haiti. Fantasiado de general.

Na volta, com a visita a Renan Calheiros, engajou-se voluntariamente numa guerra política perdida. Levou chumbo até do desafeto pendurado na presidência da Anac: "Só deixarei o cargo se quiser", falou grosso Milton Zuanazzi.

Se Jobim não tomar juízo e não reassumir a gerência da crise, seu mandarinato pode acabar bem mais cedo que o apagão.

Cabôco Perguntadô

O Cabôco continua à caça de explicações para a intrigante conversa telefônica entre Ricardo Lewandowski, ministro do STF, e um de seus irmãos. Por que o doutor não pediu ao mano que ligasse mais tarde? Por que se levantou da mesa que dividia com a mulher para ficar circulando, celular na orelha, entre cadeiras ocupadas por estranhos? Por que não contou em voz baixa pelo menos a história da faca no pescoço? Uma dúvida atormenta o Cabôco: o ministro é muito ingênuo ou é esperto demais.

Fronteiras imprecisas

Como as normas regimentais que tratam do decoro parlamentar escorregam na imprecisão e na ambigüidade, alguns senadores pretendem mudar o texto, de modo a deixar muito claro o que é apenas um pecado venial e o que é intoleravelmente indecoroso. Os espectadores da TV Senado estão ansiosos por saber em que categoria serão enquadrados o cérebro virgem de Gilvan Borges, o dialeto falado por Sibá Machado, os queixumes além-túmulo de Epitácio Cafeteira e a cabeleira argentina de Wellington Salgado.

A ópera dos malandros

O ministro Guido Mantega considera "uma tragédia" o fim da CPMF. Então, por que o PT tentou impedir a criação do tributo? Líderes do PSDB consideram "uma tragédia" a prorrogação do prazo de validade do imposto ilegal. Então, por que não trataram de revogá-lo durante o governo de FH?

Chega de conversa fiada. Abusiva e inconstitucional, a CPMF deve ser enterrada já, e em cova rasa. O governo federal que trate de apertar o cinto, como fazem todo o tempo os milhões de brasileiros que pagam a conta.

Adivinhe quem vem para jantar

O presidente da Associação Estadual de Defensores Públicos, Denis Praça, escreveu à coluna para criticar a nota sobre o caso do presidiário Elizeu Felício de Souza, um dos assassinos do jornalista Tim Lopes. Liberado para visitar a família, preferiu não voltar à cadeia. "Ele tinha todos os requisitos necessários ao exercício desse direito", insiste o reclamante, que qualifica de "corajosa e elogiável" a performance do colega Eduardo Quintanilha, libertador do bandido.

Convide os dois para a ceia de Natal, doutor Denis.

Yolhesman Crisbelles

Vai para o professor Candido Mendes, pelo artigo no JB de quarta-feira. Trecho:

O desfecho do mensalão mostra como a democracia profunda, no Planalto, derrubou de vez o álibi do moralismo de sempre, para manter o Brasil de tão poucos. O novo, sem trombetas nem manchetes, evidencia que resiste ao anticlímax e às neuroses da cobrança, de que participam nos seus amuos de empréstimos uma classe média a miar apenas o país instalado.

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