Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 08, 2007

Celso Ming

Alerta amarelo


As luzes voltaram ontem a piscar nervosamente nas telas dos computadores dos mercados globais. O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos mostrou que, pela primeira vez em quatro anos, houve mais dispensas do que contratações no mercado de trabalho. Foi o que puxou a palavra recessão de volta às análises.

Ninguém esperava por um corte de 4 mil postos de trabalho, como aconteceu em agosto. Em julho haviam sido criados 68 mil empregos e os especialistas contavam com outros 100 mil em agosto. Mas deu o que agora se sabe. Só na construção civil, setor mais diretamente atingido pela crise, as perdas foram de 22 mil empregos. (Haviam sido de 14 mil em julho.)

Este é forte indício de que a crise financeira está travando a economia real. Os novos números e, mais do que eles, o caráter inesperado do sucedido explicam por que na Europa e nos Estados Unidos as bolsas acusaram o golpe e despencaram. O dólar arriou 0,59% diante do euro e 1,7% diante do iene japonês.

Outro efeito foi nova corrida para as aplicações de segurança, especialmente para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A procura foi vigorosa o suficiente para aumentar os preços desses títulos e, nessas condições, para reduzir o tamanho do rendimento (yield). A T-Note de 10 anos pagou ontem um retorno de 4,37%, o fechamento mais baixo desde o início da crise, em junho (veja gráfico).

Não dá para avançar na precisão de um diagnóstico porque será preciso verificar como se comportam outros indicadores, como a produção, o consumo e a renda (salários).

Os olhos do mundo já estavam ansiosamente voltados para Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), à espera de que derrube os juros primários, os Fed Funds. Os juros estão parados em 5,25% ao ano desde junho de 2006.

No auge da crise, muitos capitães do mercado pressionaram o Fed para que derrubasse os juros antes da reunião marcada para o dia 18. Bernanke manteve o Fed dentro de suas atribuições institucionais de emprestador de última instância. Limitou-se a reduzir em 0,25 ponto porcentual ao ano os juros praticados nas linhas de redesconto aos bancos. Em todo o caso, Bernanke tem repetido que dará a assistência necessária para puxar os mercados de volta à normalidade.

Como tantas vezes aconteceu, é provável que a reação de ontem tenha sido excessiva, porque foi provocada mais pelo inesperado dos números ruins do que pelo impacto real da crise sobre a economia. Embora continuem sendo a mais importante, os Estados Unidos já não são a única locomotiva da produção mundial. Em todo o caso, a simbiose entre as economias é tão intensa que não dá para apostar em que o maior crescimento da Ásia acabe compensando uma eventual brecada nos Estados Unidos.

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