Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 01, 2006

PIB-Mediocridade esperada Celso Ming

Celso Ming - Mediocridade esperada


O Estado de S. Paulo
1/12/2006

Se não decepcionaram, porque eram esperados, os números do PIB do terceiro trimestre do ano também não despertaram entusiasmo.

(Apenas para quem não está familiarizado com o jargão econômico, Produto Interno Bruto - PIB - é o conjunto das rendas do País num determinado período. Digamos que seja a soma dos salários de uma população. A renda per capita é a média; é o bolo dividido pelo número de habitantes. Pode ser medido tanto pelo lado da oferta como pelo lado da demanda. Há quem se confunda porque acha que PIB é produção física. É só em parte, porque é preciso colocar preço nisso, porque se trata de renda. Se o preço caiu, o PIB tem de refletir essa diferença, mesmo que em volume a produção tenha sido maior.)

O organismo que mede e avalia o PIB brasileiro é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E o que ontem saiu foi que o PIB de julho, agosto e setembro cresceu 0,5% quando comparado com o trimestre anterior. Em 12 meses, esse avanço é de 3,2% e o acumulado nos nove primeiros meses do ano, de 2,3%.

O crescimento da renda brasileira continua medíocre quando comparado com de outros países emergentes. Deixando de fora o caso da China, que é uma covardia, olhe esses números: Índia crescendo, neste ano, a 8,9%; Indonésia, a 5,5%; Cingapura, a 7,2%; Argentina, a 7,9%; Colômbia, a 6,0%; Rússia, a 7,4%; e Turquia, a 7,5%.

A principal surpresa nas Contas Nacionais está no investimento, item que os técnicos chamam de Formação Bruta de Capital Fixo. Quando comparada ao terceiro trimestre do ano passado, aumentou 6,3%. Isso mostra que o País voltou a investir. Como, em princípio, investimento hoje é produção amanhã, esse avanço sugere que o setor produtivo está se preparando para um aumento das encomendas. As baixas cotações do dólar em reais e as facilidades de financiamento externo estão encorajando as importações de máquinas. Mas convém ponderar que, quando se fala de investimento, nessa conta a construção civil entra com peso de 80%. E construção civil apenas em parte pode ser considerada aumento futuro da capacidade de produção.

Há algumas semanas já se desconfiava de que o consumo estivesse avançando acima da produção industrial. Esse descolamento ficou demonstrado nas contas do PIB, mas pode estar mais acentuado no último trimestre deste ano, como sugerem os números do comércio varejista.

O Consumo das Famílias caminha 3,4% em relação à posição do terceiro trimestre do ano passado, o décimo trimestre seguido de crescimento. O IBGE explica que esse bom resultado apareceu em conseqüência do aumento real do salário do trabalhador e da expansão do crédito, especialmente o consignado (aquele que é descontado diretamente do salário ou da aposentadoria).

Enquanto isso, o ritmo da indústria de transformação no terceiro trimestre deste ano sobre o mesmo período do ano passado não passou dos 2,0%. Como se sabe, a diferença deve estar sendo suprida ou com desova de estoques ou com importações.

A divergência de diagnóstico para esse fraco desempenho do PIB não é apenas conceitual. Os "desenvolvimentistas" pedem redução imediata dos juros e desvalorização do real, mas não conseguem apresentar projeto consistente que não desarrume tudo. Os "ortodoxos" querem equilíbrio fiscal mais sólido, baseado na contenção da gastança pública e nas reformas. Mas até agora não reuniram consenso político mínimo que seja capaz de colocar em marcha seu projeto.

O presidente Lula parece confuso. Pede projetos de aceleração do crescimento econômico, mas não quer pagar o preço em inflação, que viria da aceitação das idéias dos "desenvolvimentistas", nem em enfrentamento de interesses políticos, que viria da aplicação das reformas.

Enfim, cada um com a vacilação que lhe é própria.

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