Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 12, 2006

Presidente tropeça em entrevista ao vivo

veja
Não diga, presidente!

Em entrevista incisiva, o Jornal Nacional
obtém novas versões de Lula sobre
escândalos no governo

 

Ichiro Guerra
Bonner, Fátima e o presidente: "combate à ética" e "demissões" que ninguém sabia

Na quinta-feira passada, foi a vez de o presidente Lula participar da série de entrevistas com os candidatos à Presidência da República que vem sendo exibida no Jornal Nacional. Assim como as anteriores, a sabatina de Lula foi incisiva e conduzida com habilidade pelos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes. Lula preparou-se de véspera, antevendo que a corrupção em seu governo dominaria a pauta. A lição de casa foi tomada por seu novo marqueteiro, o publicitário João Santana. Fora os trinta segundos finais da conversa, que totalizou doze minutos, só se falou sobre corrupção. Lula negou qualquer responsabilidade no caso do mensalão e insistiu na tese de que os petistas envolvidos com o valerioduto são inocentes até prova em contrário. Diante do desmonte sucessivo de seus argumentos – e talvez por nunca ter sido confrontado em público com essas questões –, deixou-se dominar pela tensão. Cometeu atos falhos, na opinião dos adversários, ou enganos, na visão dos correligionários, ao dizer que em seu governo se faz o "combate à ética" e que "só o salário caiu".

Lula deu também versões até então desconhecidas para os escândalos. Quando questionado sobre a distância entre seu discurso de candidato anticorrupção e a conduta de seu governo, afirmou, pela primeira vez, que foi ele quem afastou os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci. Soou como novidade, já que, na ocasião em que ambos se enrolaram em denúncias, o presidente veio a público defendê-los – até o momento em que eles (eles, e não Lula) apresentaram sua demissão.

A entrevista de Lula acrescentou também mais uma contradição ao caso da misteriosa dívida de 29.400 reais que seu amigo Paulo Okamotto teria pago por ele. No ano passado, tanto a assessoria do Palácio do Planalto quanto Okamotto, em seu depoimento à CPI dos Bingos, sustentaram que Lula nunca soube do débito. Agora, eis que o próprio presidente desmente amigo e assessoria, dizendo que sabia, sim (veja o quadro). A entrevista, feita ao vivo, em horário nobre, pela rede de TV mais vista do país, escreveu uma página memorável na história da liberdade de expressão no Brasil. A ausência evidente de acertos com a assessoria do presidente e o tratamento firme mas civilizado dispensado pelos entrevistadores ao entrevistado são um avanço no reconhecimento do papel da imprensa em suas relações com o poder.

 

AGORA, ELE DIZ QUE SABIA

Na entrevista ao Jornal Nacional, Lula contradisse sua assessoria e o amigão Paulo Okamotto em relação à misteriosa dívida de 29400 reais que este teria pago por ele

O que disse a assessoria de Lula
"A Presidência da República não tem conhecimento dessas informações, que devem ser buscadas junto ao Partido dos Trabalhadores" (em nota oficial divulgada em julho de 2005)

O que Okamotto disse à CPI dos Bingos
"Durante a tratativa que fiz junto com o PT, com Delúbio Soares, jamais comentei com o presidente que esses débitos se encontravam em aberto" (em novembro de 2005)

O desmentido de Lula no Jornal Nacional
"Não devo ao PT, portanto não deveria pagar. O que eu disse (a Okamotto) foi o seguinte: 'Se você quiser pagar, pague, porque eu não devo ao PT'" (na última quinta-feira)

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