Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 11, 2006

Lula e a faxineira de Freud (Por Lucia Hippolito)

Blog do NOBLAT

A faxineira do dr. Freud trabalha com ele há muitos anos. Moça esperta, aprendeu os rudimentos da psicanálise e já diagnosticou os casos mais simples, desafogando a pesada agenda do professor.


Desde as eleições de 1994 a faxineira do dr. Freud vem analisando os candidatos à presidência da República. Por isso, assistiu com um olhar quase profissional à entrevista do presidente Lula ao Jornal Nacional, que encerrou a série que a TV Globo fez com os quatro principais candidatos.


O presidente Lula se comporta como candidato em palanques, inaugurações e até em batizados de boneca. Mas o candidato Lula se comporta como presidente quando faz campanha eleitoral pela TV. Caso de dupla personalidade, diz nossa diligente faxineira.


Exigiu que a entrevista fosse realizada no Palácio da Alvorada, sua “casa”, seu território, e não na bancada do JN, território dos candidatos, território “inimigo”. Insegurança, disparou a moça, implacável.


Afinal, o que teme o presidente-candidato? Seus números nas pesquisas são prá lá de confortáveis, seu governo (segundo ele) é o melhor da história do país desde Pedro Álvares Cabral. “Nunca na história deste país...” é o mote do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa é fácil: síndrome do Marco Zero.


Seus oponentes somados não chegam a 50% dos votos válidos; é possível que tudo termine no primeiro turno. Por que, então, o presidente só se comporta como candidato fora da campanha eleitoral? Desvio de personalidade? Talvez.


É delicado entrevistar um presidente da República – qualquer um. O entrevistador fica naturalmente intimidado pela presença da maior autoridade do país, mesmo que muitas vezes esta mesma autoridade não respeite a instituição da Presidência.


Se o presidente falta com a verdade numa resposta, o que fazer? Responder: “Presidente, o senhor não está falando a verdade.”? Complicado.


Por isso mesmo, foi confortador ver os apresentadores do Jornal Nacional pressionando o presidente-candidato, cobrando, replicando respostas evasivas ou ambíguas.


Lula confirmou o que já se sabia: atirou ao mar todos os companheiros de longa data, a quem deve a eleição em 2002, mas que poderiam atrapalhar os planos de reeleição. Confirmou que foi ele quem demitiu José Dirceu, além de todos os outros.


Tentou se comparar a uma mãe extremosa, no que foi cortado com muita precisão por Fátima Bernardes. Estadista é estadista e mãe é mãe; não se confundem. A faxineira concorda.


Dois momentos da entrevista foram, ao mesmo tempo, engraçados e reveladores. Logo no início, Lula declarou que o “combate à ética” tem que ser permanente. E lá pelas tantas, declarou que no seu governo, “a única coisa que baixou no Brasil foi o salário”. Curioso...


A faxineira de Freud explica direitinho o presidente-candidato. Não precisa incomodar o prof. Freud.

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