Faltam nove na degola
Relatório inicial da CPI dos Sanguessugas
pede cassação de 72 políticos, mas mistérios
insondáveis livram deputados enrolados
Diego Escosteguy
Dida Sampaio/AE |
Lando, o relator que se esforça nas absolvições: "Não vejo provas" |
Criada sob uma onda de descrédito, sobretudo por causa da proximidade das eleições, a CPI dos Sanguessugas acaba de provar que é um sucesso de crítica e de público. Na quinta-feira passada, aprovou o pedido de cassação de 69 deputados e três senadores, todos acusados de envolvimento na máfia especializada em fraudar licitações para a compra de ambulâncias superfaturadas. Nas 975 páginas do relatório de acusação, estão descritos com minúcia os métodos da quadrilha e o papel de cada parlamentar no esquema – e tudo corroborado por provas incontestáveis colhidas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, como recibos bancários, gravações telefônicas e depoimentos dos envolvidos. O relatório só não foi aprovado por unanimidade devido à posição contrária do senador Wellington Salgado (PMDB-MG) e à abstenção do senador Sibá Machado (PT-AC). Agora, os conselhos de Ética da Câmara e do Senado vão abrir os processos de cassação contra esses 72 parlamentares, num procedimento que se arrastará, na mais otimista das hipóteses, até o primeiro semestre de 2007. Apesar da boa notícia, o trabalho da CPI não merece somente aplausos.
Os integrantes da comissão resolveram deixar de fora da lista dos cassáveis um grupo de dezoito deputados. Isso significa que as investigações sobre eles foram encerradas e, a menos que surjam novas acusações, todos estão desde já livres da ameaça de cassação. Entre os dezoito inocentados, contudo, há pelo menos nove absolvições movidas por mistérios insondáveis. São parlamentares cujos casos se assemelham aos dos 72 colegas que foram enviados à guilhotina e, portanto, deveriam compartilhar o mesmo destino. Examinando-se o vasto baú das provas da CPI, constata-se que os nove parlamentares também fizeram acertos com os chefes da máfia ou tiveram assessores diretos pilhados na roubalheira, entre outras modalidades de picaretagem. São eles: Teté Bezerra (PMDB-MT), Fernando Estima (PPS-SP), Feu Rosa (PP-ES), Gilberto Nascimento (PMDB-SP), Helenildo Ribeiro (PSDB-AL), Itamar Serpa (PSDB-RJ), Jefferson Campos (PTB-SP), Nélio Dias (PP-RN) e Nilton Baiano (PP-ES).
Carlos Moura/CBPRESS |
Teté Bezerra, salva graças ao esforço de Lando: 5 a 2 |
O caso exemplar da minipizza ficou por conta da deputada Teté Bezerra (PMDB-MT), mulher do ex-senador sanguessuga Carlos Bezerra e camarada do relator da CPI, o senador Amir Lando, de Rondônia. As provas contra ela são fartas. Na planilha de propinas apreendida na sede da Planam, em Cuiabá, empresa-mãe da quadrilha, a deputada aparece como beneficiária de 84.000 reais, pagos por intermédio do assessor Newton Sabaraense. Segundo o depoimento do empresário Ronildo Medeiros, um dos chefes do esquema, a campanha da deputada em 2002 recebeu 200.000 reais de Luiz Antônio Vedoin, o dono da Planam e principal testemunha do esquema, entregues a seu marido, Carlos Bezerra. Vedoin, por sua vez, afirmou em depoimento que a deputada se comprometeu, durante a campanha de 2002, a apresentar emendas favoráveis às negociatas da Planam. Em troca, o sanguessuga pagou 100.000 reais a uma produtora de São Paulo, que fez programas de televisão para o PMDB em Mato Grosso. O sanguessuga até apresentou o devido comprovante do depósito.