Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 12, 2006

celso ming Sem limite para parar : Estado




US$ 70 bilhões de reservas externas. É a quanto poderão chegar, ainda nesta semana. O gráfico ao lado mostra o salto.

Antes de prosseguir, é preciso pontuar que a compra de moeda estrangeira impõe um custo fiscal ao Banco Central. No Brasil, as reservas externas são aplicadas em títulos públicos estrangeiros, na mesma proporção dos compromissos de dívida externa que o Brasil enfrenta. Como cerca de 90% da dívida externa do Tesouro está em dólares, as reservas estão aplicadas, mais ou menos na mesma proporção, em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que rendem pouco abaixo de 5% ao ano.

Ao comprar os dólares, o Banco Central tem de aumentar a dívida interna que paga juros de 14,25% ao ano. Ou seja, quando faz reservas, o Banco Central troca um crédito que rende menos por uma dívida que custa mais.

Em princípio, reservas existem para enfrentar períodos de escassez de moeda estrangeira. Até os anos 80, o entendimento era o de que devessem corresponder a três meses de importações, para cobrir eventuais rombos no comércio exterior. Se esse critério se mantivesse, bastariam agora US$ 22 bilhões. Depois das crises internacionais dos anos 90, ficou claro que os compromissos financeiros pesam mais do que os comerciais e, a partir de então, ninguém mais conseguiu ter uma idéia clara do que seja o nível ideal de reservas.

Em outubro, quando haviam ultrapassado os US$ 40 bilhões, alguns economistas ilustres, entre os quais o professor José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton, alertavam que as reservas haviam passado do limite e que o Banco Central deveria parar suas compras. Em maio, houve a minicrise de liquidez internacional. A partir de então, ninguém mais se atreveu a afirmar que as reservas tinham passado do limite.

Independentemente de considerações desse tipo, os empresários, especialmente os exportadores, querem que o Banco Central não pare de comprar. Imaginam eles que, por aumentar a procura de moeda estrangeira, a compra de dólares pode evitar a excessiva valorização do real. Mal sabem eles que a engorda das reservas traz conseqüência diametralmente oposta ao que pretendem. Com mais reservas, some o medo de que haja calote na dívida pública, trauma que acompanha a economia brasileira desde a moratória de 1987. Aumentando a confiança, cai o prêmio de risco Brasil. Sexta-feira fechou a 209 pontos, perto dos mais baixos da história. E a queda do prêmio de risco melhora a percepção dos fundamentos da economia, o que tende a provocar valorização do real.

Muita gente ainda acha que as cotações do dólar estão caindo aqui dentro porque os juros altos atraem capitais financeiros. Não dá para negar que uma pequena parte dos capitais que chegam vêm atrás dos juros altos. Mas isso não passa de efeito marginal. As contas externas não confirmam entrada suficiente para provocar todo esse despencamento do dólar no câmbio interno. O grosso dos capitais vem pela conta de comércio. São as exportações, superiores às importações em cerca de US$ 44 bilhões neste ano, o principal fator de valorização do real.

Não é só isso. Com mais confiança, menos capitais se predispõem a sair do Brasil e acabam sendo investidos por aqui mesmo. Menos capitais saindo, diminui a procura de dólares e a cotação tende a cair. O que até mesmo os analistas estão demorando para entender é que acabou a predisposição à saída de capitais. Em outras palavras, está sumindo a tal vulnerabilidade externa, o drama da política econômica das duas últimas décadas.

Esta é mais uma razão pela qual não faz sentido exigir que o governo imponha barreiras para a entrada de capitais. Se essa gente fosse mais conseqüente quanto ao efeito pretendido, daria um jeito de reivindicar mecanismos que empurrassem capitais para fora e não o contrário.

A moral da história é a de que quanto mais o Banco Central seguir comprando dólares, maior tende a ser a queda da cotação do dólar no câmbio interno. Mas os empresários, especialmente os exportadores, não conseguem ver esse efeito.

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