"Os deputados Raul Jungmann (PPS-PE) e Fernando Gabeira (PV-RJ) começaram a recolher assinaturas para a instalação de uma CPI Mista (deputados e senadores) que investigue o emprego de dinheiro do Orçamento da União na compra fraudulenta de ambulâncias e de ônibus.
A Polícia Federal remeteu à presidência da Câmara lista com nomes de 62 deputados citados nas investigações promovidas por ela durante o que chamou de "Operação Sanguessuga". A roubalheira movimentou R$ 110 milhões e foi sustentada pela apresentação de emendas ao Orçamento da União.
Das 40 pessoas presas na semana passada pela polícia, uma resolveu colaborar em troca de pena mais branda - a ex-assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino. Ela apontou ontem os nomes de 170 deputados e de um senador que teriam recebido propinas para apresentar as emendas.
Hoje, ela entregou à polícia e ao Ministério Público um CD-ROM com a relação das emendas, dos seus respectivos autores, o número de ambulâncias e de ônibus comprados a preços superfaturados, as prefeituras que os receberam e os nomes das pessoas que fizeram as entregas.
A Câmara está em polvorosa. É grande o número de deputados à beira de um ataque de nervos. Parte dos 513 apresentou emendas para a compra de ambulâncias e de ônibus. E mesmo aqueles que nada têm a ver com a ação criminosa dos "sanguessugas", temem acabar sujos de lama.
Dado ao escândalo do mensalão e às sucessivas absolvições pelo plenário da Câmara dos que levaram grana da dupla Marcos Valério-Delúbio Soares, deputado federal é culpado até prova convincente em contrário. Muitos deles evitam se exibir por aí com o broche de deputado na lapela.
Alguns sofreram constrangimentos a bordo de aviões. Foram xingados, vaiados e passageiros que deveriam sentar ao lado deles preferiram ocupar lugares distantes. Em ano eleitoral, ter seu nome incluído em listas de suspeitos por qualquer coisa pode custar alguns milhares de votos.
E até que provem sua inocência, a eleição já passou.
A iniciativa dos deputados Jungmann e Gabeira pode ser meritória - de resto, como argumenta Jungmann, "alguma coisa tem que ser feita, alguma satisfação deve ser dada à sociedade". Mas ao fim e ao cabo, não dará em nada. Haverá número suficiente de assinaturas para a instalação da CPI.
É mesmo possível, a depender de novas revelações e da pressão da opinião pública, que a CPI comece a funcionar. Cadê, porém, tempo hábil para que produza resultados antes das eleições? E cadê vontade política da Câmara para punir quem venha a se revelar culpado?
A Câmara que livrou a cara dos réus confessos do caso do mensalão condenará os que venham a ser apontados como réus no caso da compra fraudulenta de ônibus e de ambulâncias?
Esqueça, vai.
A presidência da Câmara foi exercida nos últimos quatro anos por três deputados. Dois deles (João Paulo Cunha, do PT, e Severino Cavalcanti, do PP) meteram-se em grossas falcatruas. O primeiro abriu as portas da Câmara para Marcos Valério, embolsou dinheiro dele e mesmo assim escapou de ser cassado.
O segundo renunciou à presidência da Câmara e ao próprio mandato para não ser cassado. Extorquiu dinheiro de um concessionário de restaurantes. Perambula pelo interior de Pernambuco à caça de votos. Espera estar de volta à Brasília para ajudar Lula em um eventual segundo mandato dele."
Enviada por: Ricardo Noblat