artigo - José Pastore* |
O Estado de S. Paulo |
16/5/2006 |
De um modo geral, os sindicatos tendem a fazer concessões quando percebem que a intransigência ameaça os empregos. O caso da Varig não foi diferente. Mas as concessões só vieram na última semana como última tábua de salvação da empresa. É claro que não se pode atribuir toda a crise da empresa à conduta dos sindicatos. Vários outros fatores tiveram responsabilidade. A Varig foi fundada em 1927. Em 1939 já teve de ser socorrida pelo governo para expandir suas operações. Em 1941, Ruben Martin Berta, o mais antigo funcionário, foi eleito presidente. Em 1945, transferiu metade das ações para uma fundação dos empregados da empresa, mais tarde transformada em Fundação Ruben Berta, que, na prática, assumiu o controle da Varig. Ao lado dela, foi criada uma associação dos Trabalhadores do Grupo Varig, que, junto com os sindicatos de aeronautas e aeroviários, passou a ter grande influência. As negociações trabalhistas durante anos e anos tiveram representantes do mesmo lado - eram funcionários negociando com funcionários. Os benefícios concedidos foram generosos, quando comparados com a concorrência. Por exemplo, assistência médica e odontológica eram gratuitas para funcionários e familiares; hospedagem e alimentação durante as férias corriam por conta da empresa; empréstimos com juros negativos foram disponibilizados sem muitas garantias. Na sua trajetória de crescimento, a empresa comprou a Real em situação de forte crise. Os referidos benefícios foram estendidos a todos os novos funcionários. Em 1975 a Varig adquiriu a Cruzeiro do Sul, também em crise, mantendo a sua política de benefícios. Depois disso, os sinais de desequilíbrio financeiro se agravaram. Para salvar a Varig, o governo federal, em 1976, por meio de um decreto, deu exclusividade à empresa para o transporte dos funcionários públicos. Com isso a Varig se equilibrou, podendo honrar os benefícios concedidos. Mas, com a crise financeira internacional de 1997-98, a empresa foi obrigada a cancelar várias rotas no exterior. Impunha-se um corte de pessoal ou de salários e benefícios - o que foi impedido pela ação dos sindicatos e da associação de funcionários. As tripulações tornaram-se excessivas; os benefícios, impraticáveis; e as remunerações, inviáveis. Com a nomeação de presidentes mais executivos (Osires Silva, Arnim Lore e outros), esperava-se a reestruturação da empresa. Outra vez, os sindicatos e a associação levantaram grandes barreiras. Além de excessivo, o quadro de pessoal envelhecera. A produtividade caíra. E os salários e os benefícios continuavam nas nuvens, tornando as despesas com pessoal 35% superiores às da concorrência. Em 1982 foi criada a Aerus. O plano de previdência privada previa uma contribuição dos empregados no valor de 7,6% do salário. Mas, por pressão dos sindicatos e da associação, isso foi derrubado. E mais. O benefício máximo, inicialmente fixado em dois tetos do INSS, também foi liberado, comprometendo severamente o equilíbrio atuarial do instituto. Basta dizer que vários funcionários se aposentaram com apenas três anos de contribuição à Aerus. Durante muito tempo o pecúlio por morte foi pago só pela Varig. A crise vem de longe. Apesar disso, os sindicatos e a associação nunca permitiram desligamentos ou remanejamentos - nem mesmo planos de demissão voluntária. Em abril de 2006, a Varig tinha 54 aeronaves em operação e 9.400 funcionários, dos quais 1.400 eram pilotos. A TAM tinha 81 aeronaves em operação e 9.669 funcionários, dos quais 1.079 eram pilotos. É uma diferença expressiva. Há outras. A Varig possui 26 pilotos por avião enquanto a TAM tem 13. O número de funcionários por aeronave na Varig é de 201, enquanto na TAM é de 88 e, na GOL, 85. São diferenças enormes. De 2000 para cá, a Varig teve nove presidentes e um deles foi "demitido" pelos sindicatos e pela associação porque dispensou cerca de 160 pilotos que estavam parados por falta de aeronaves. Finalmente, na semana passada, os sindicatos dispuseram-se a cooperar. Concordaram com cortes duros de emprego e de salários - que poderiam ter sido evitados se, junto com uma boa administração, tivessem usado de mais moderação no passado. Oxalá tudo se resolva bem! A Varig sempre apresentou um excelente padrão de qualidade, uma manutenção primorosa e uma bela imagem no Brasil e exterior. A empresa precisa ser preservada, especialmente agora, quando todos tiraram grandes lições sobre o risco de administrações temerárias e o perigo de condutas intransigentes.
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Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, maio 16, 2006
Os sindicatos e a Varig
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