| editorial |
| O Estado de S. Paulo |
| 12/5/2006 |
Já ao final do depoimento do ex-secretário petista Silvio Pereira à CPI dos Bingos, o senador paranaense Álvaro Dias, do PSDB, pediu-lhe que esclarecesse uma passagem freqüentemente citada de sua entrevista ao Globo, publicada no último domingo: "Quando estourou (o escândalo), nos encontramos com ele. Marcos Valério disse três coisas: "Olha, tenho três opções: entregar todo mundo e derrubar a República, ficar quieto e acabar como o PC Farias, ou o meio-termo." Foi isso." O tucano queria saber o que poderia significar precisamente "derrubar a República". Pereira começou respondendo que não tinha certeza de ter ouvido isso de Valério. Diante da insistência do senador, afirmou que o publicitário disse o que disse "não necessariamente" para ele, Pereira. "Mas disse", voltou o parlamentar. "Pode ter dito", corrigiu o depoente. Esse diálogo surrealista resume perfeitamente o que foi a farsa encenada durante mais de 6 horas pelo ex-secretário, anteontem no Congresso - algo também perfeitamente previsível a partir do momento em que, antes do início da sabatina, Pereira se recusou a prometer por escrito que falaria apenas a verdade. Livre para mentir, deixou todos boquiabertos ao declarar que não havia lido a entrevista que provocou a sua convocação, não havia conversado sobre o assunto com os seus advogados, nem tampouco assistira a algum telejornal que dele tratasse. O seu desempenho na CPI mostrou que é falsa a imagem de alguém intelectualmente limitado e mentalmente desequilibrado. Ao contrário, Pereira desfilou esperteza e controle emocional para se fazer passar por néscio ou amalucado - ou pelo oposto disso - quando lhe conviesse. Ora parecia incapaz de completar um pensamento, ora falava com a fluência dos que têm a mente desanuviada e os fatos na ponta da língua. O talento de ator lhe serviu para não confirmar, nem desmentir as palavras que o jornal lhe atribuiu. Astutamente, guardou-se de contestar o que saiu entre aspas, em seu nome. Mas não perdeu oportunidade para repetir que não estava seguro se sabia do que falava. "Não sei mais onde está a verdade", alegou em voz baixa no começo da sessão. "Eu não sei se o que eu falei ali era verdadeiro. Eu não sei mais." E, numa de suas últimas respostas, dessa vez em alto e bom som, fingiu admitir que muito do publicado podia ser "criação da minha cabeça". Deixou patente o seu ressentimento com os antigos companheiros ao se queixar, por exemplo, de que foi "cortado da fotografia da história do PT". Mas não apenas protegeu o presidente com palavras inequívocas - "nunca percebi Lula fazendo nada de errado", "nunca recebi dele qualquer orientação errada, indevida, desonesta, ilícita" - como ainda, respondendo a uma pergunta, informou que votará nele novamente. Se assim é, por que consentiu em falar 8 horas à repórter que o procurou de inopino? Para, valendo-se da ocasião caída do céu, mandar um inconfundível recado aos companheiros da cúpula do PT. Bons entendedores, eles reagiram de imediato à entrevista, dizendo de forma menos ou mais explícita que ele ou estava maluco ou, traidor e corrupto que era, teria querido se vingar, com um rosário de mentiras, do ostracismo a que foi relegado desde que se desfiliou do partido para dele não ser expulso. Na realidade, com o pote até aqui de mágoa porque Lula e José Dirceu não permitiram que se candidatasse a deputado, nem premiaram os seus 22 anos de militância com um cargo no governo, nem mesmo autorizaram que ascendesse na hierarquia partidária além da Secretaria de Organização, Pereira fez saber ao Planalto e ao PT que estava diante do mesmo dilema que atribuiu a Valério: "Entregar todo mundo e derrubar a República, ficar quieto e acabar como o PC Farias, ou o meio-termo." Com a diferença de que Valério parece ter optado pelo meio-termo - e ele, Silvio Pereira, sem emprego, vivendo à custa da família e tratado como pária, ainda não se decidiu. "Sabe qual é o problema?", perguntou retoricamente em dado momento da entrevista. "Eu nunca fui ouvido pelo PT. Nunca quiseram saber. Mas deveriam." Como observou Dora Kramer em sua coluna de ontem, "o desempenho esteve à altura do espetáculo do faz-de-conta apontado pelo ministro Marco Aurélio Mello no seu discurso de posse" no TSE. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, maio 12, 2006
Nem tolo, nem amalucado
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