Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

LUÍS NASSIF Não é a tecnologia, ministro

FOLHA
É blefe o anúncio do ministro das Comunicações, Hélio Costa, de que nos próximos dias o governo brasileiro escolherá o padrão japonês de TV digital. Na terça-feira foi montado um comitê restrito de ministros -o das Comunicações, o do Desenvolvimento, Luiz Furlan, a da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o da Fazenda, Antonio Palocci- para conduzir as negociações com os diversos padrões.
Daqui até o final do mês, o grupo entrevistará os representantes dos padrões americano, europeu, japonês e brasileiro, discutindo em cima de vários aspectos, não apenas o que as emissoras preferem.
A rigor, a última coisa que deveria preocupar seriam as diferenças tecnológicas entre os diversos padrões. Assim como em outras tecnologias, na TV digital há uma corrida em que a última versão de um padrão sempre é a melhor. Os europeus tinham um padrão melhor que o americano, os japoneses entraram com um padrão novo, incorporando e melhorando o padrão europeu. O próprio consórcio de instituições brasileiras definiu melhorias em vários aspectos do padrão japonês. Em breve, os americanos (na verdade a tecnologia é da coreana LG) atingirão o estágio do padrão japonês, assim como os europeus. É mera questão de tempo.
Os pontos centrais de análise devem ser outros:
Política industrial: qual sistema permitirá a criação de uma base de venda interna e de exportações de aparelhos.
- No modelo americano, além do próprio mercado dos EUA, o Brasil ajudaria a criar mercado para ele, à medida que pudesse induzir outros países da América Latina a aderir a ele.
- O sistema europeu é adotado por mais de 50 países, portanto, nesse quesito teria vantagens.
- O sistema japonês é adotado exclusivamente por países asiáticos, que não são importadores de eletroeletrônicos.
Desenvolvimento tecnológico interno: há apenas duas alternativas à vista:
- Criação de um padrão brasileiro, partindo do zero, com a dificuldade de não ter mercado externo para permitir ganhos de escala.
- Adesão ao modelo europeu, um consórcio aberto em que as implementações tecnológicas de seus membros são negociadas em pacote. Aspectos inovadores do desenvolvimento brasileiro poderiam ser incorporados pelo consórcio.
Acessibilidade: o custo do aparelho para o consumidor final, levando em conta ser um país de baixa renda e com uma amplíssima base instalada de televisores analógicos. Os europeus sustentam que o seu modelo é o único flexível, permitindo atender dos consumidores menos aos mais sofisticados. Os japoneses e os americanos sustentam ser possível oferecer produtos de baixo custo. Do debate, nascerá a verdade.
Condições de competição: aferir até que ponto o modelo permitirá isonomia na competição entre os diversos atores, TVs abertas -único grupo de capital nacional-, telefonia fixa e celular, cabo, produtores independentes.
No endereço do Projeto Brasil (www.projetobr.com.br) há um documento-mestre que permite entender os principais pontos do debate, como entrevistas, trabalhos e pontos de vista de todas as partes envolvidas na discussão.

Arquivo do blog