Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, junho 07, 2005
Sair da defensiva O GLOBO OPINIÃO
Os efeitos da crise política deflagrada por denúncias da existência de um balcão de negócios instalado pelo PTB nos Correios já foram detectados nas últimas pesquisas eleitorais, como na do DataFolha. E não só pelo fato de ter sido apontada pela primeira vez a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter de disputar o segundo turno nas eleições do ano que vem, mas muito por causa do avassalador crescimento do contingente de eleitores convencidos de que há corrupção no governo do PT — de 32% em março do ano passado para 65% agora.
Pode-se calcular o que deve acontecer depois da denúncia feita pelo presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson — talvez o principal atingido pelo escândalo dos Correios, engrossado pelo caso do IRB, e que resolveu contra-atacar numa espécie de operação kamikaze. A afirmação de Jefferson à "Folha de S.Paulo", de que há deputados da base aliada cujo apoio foi comprado por mesadas pagas pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, não afasta qualquer das suspeitas que pairam sobre ele e o PTB, mas tem alto poder de corrosão no Planalto e na biografia de estrelas petistas.
A atuação da Polícia Federal é prova de que não há, por parte do presidente Lula, leniência com o roubo do dinheiro público. A ação constante da PF contra quadrilhas de colarinho branco infiltradas na máquina do Estado pode explicar a percepção de que a corrupção se alastrou. A freqüência com que os casos têm surgido criaria a idéia falsa de que aumentam os assaltos aos cofres públicos, quando o que tem crescido seria uma maior visibilidade da repressão aos assaltantes do Tesouro.
Mas nada justifica que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tente, por todos os meios — até os menos recomendáveis — abortar a CPI para investigar as evidências de que o PTB e o seu mais alto dirigente, Roberto Jefferson, abriram um guichê de coleta ilegal de dinheiro junto a fornecedores dos Correios.
Agora, a questão é como manejar com a denúncia de Jefferson. Se houver sensatez, o presidente concluirá não haver outra alternativa: a existência do tal "mensalão" de R$ 30 mil, segundo Jefferson destinado a deputados do PP e PL, tem de ser esclarecida imediatamente. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, agiu com a presteza necessária ao abrir uma sindicância na corregedoria da Casa. O Congresso tem instrumentos para conduzir investigações. Mesmo que a Mesa da Câmara, sob controle do baixo clero, possa sofrer influência de muitos dos possíveis atingidos pela denúncia, a pressão da opinião pública e a atuação dos partidos de oposição, e da banda nobre da bancada da situação, podem fazer com que a Câmara aja como se espera dela. Se os trabalhos conduzidos pela corregedoria justificarem a ampliação da CPI dos Correios para também tratar do "mensalão", que assim seja.
A iniciativa de Roberto Jefferson de confirmar esses pagamentos espúrios — há tempos se falava na existência dessa espécie de propinoduto parlamentar — pode ser interpretada como uma forma de o deputado fluminense tentar proteger-se ampliando a área de destruição caso venha a ter a carreira política dinamitada.
Por isso, é preciso não se perder o foco na questão do PTB, dos Correios e na atuação de Roberto Jefferson no segundo escalão do governo, em que os indicados do dirigente petebista têm acesso a orçamentos bilionários. Não se trata de reduzir a importância das denúncias do presidente do PTB. A acusação da existência de deputados que transformaram seu mandato em mercadoria é tema em princípio talhado para uma CPI.
Mas é ilusório imaginar que seja viável o funcionamento paralelo de duas comissões parlamentares de inquérito em que políticos da base do Palácio do Planalto estejam no banco dos réus. Qualquer tentativa mais açodada poderá inviabilizar as duas CPIs, e Roberto Jefferson terá atingido o objetivo de salvar o PTB da quebra de sigilos bancários, fiscais e telefônicos com a rapidez que só uma CPI pode viabilizar. Quando todos estão em risco, ninguém corre perigo — deve raciocinar o deputado fluminense ao procurar atingir o presidente da República e a cúpula do governo.
É crucial evitar-se que a crise política contamine a economia. Ontem, o dólar subiu e a Bolsa caiu influenciados por Brasília. É mau sinal. Mais uma razão para o Palácio do Planalto sair da defensiva e viabilizar as investigações sobre a interferência de interesses financeiros de petebistas na administração dos Correios.
Outra vinculação possível entre as denúncias de Roberto Jefferson e a proposta da CPI dos Correios é que mais ainda agora o governo tem motivos para apoiar as investigações no Congresso. Pois será uma maneira de marcar seu distanciamento de esquemas suspeitos instalados pelo presidente do PTB no segundo escalão da administração pública.
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