Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 07, 2005

CLÓVIS ROSSI :Cheques, ônus e bônus FOLHA DE S PAULO

SÃO PAULO - O ponto-chave nessa história do "mensalão" denunciado pelo deputado Roberto Jefferson a Renata Lo Prete, desta Folha, é o seguinte: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia do esquema? E, se sabia, o que fez?
Se sabia e nada fez, cometeu crime de responsabilidade, o que pode dar até em impeachment. Que o presidente sabia, o próprio Planalto admite. O problema é que há duas versões para a segunda pergunta. Jefferson diz que Lula chorou e o esquema cessou. Mas não houve apuração.
Já o Palácio do Planalto diz que o presidente passou a bola para Aldo Rebelo, que a repassou para Arlindo Chinaglia, o líder na Câmara, que chegou à conclusão de que era denúncia velha, surgida em setembro, pelo deputado Miro Teixeira, que teria se desmentido depois.
Parece claro que a cúpula do governo/PT foi, para ser bem brando, descuidada na apuração de uma denúncia da maior gravidade. Mas não há elementos para afirmar que Lula nada fez. De todo modo, se ele acreditasse na frase que lhe atribuem -segundo a qual daria um cheque em branco para Jefferson e, não obstante, dormiria tranqüilo-, teria de ficar em cima da investigação que seus subordinados dizem ter feito.
Agora, a Folha ouviu que, cheque a Jefferson, "nem preenchido".
Tarde demais. O estrago já está feito. Tão feito que o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) teve de esquecer pronunciamento já gravado sobre combate à corrupção, porque falava dos Correios e do IRB, mas não da entrevista de Jefferson.
Ou seja, dia sim, outro também, há alguma denúncia do gênero.
Nesse cenário, barrar investigações, quaisquer que sejam, equivale à confissão de culpa. Aí, de duas uma: ou o governo sabe que uma CPI trará mais fatos comprometedores à luz do dia ou é tonto de preferir ficar com o ônus de ser visto como culpado sem o eventual bônus de a investigação dissipar ao menos algumas dúvidas que flutuam sobre a pátria.

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