EDITORAL DA FOLHA DE S PAULO
O oráculo da política monetária dos EUA, Alan Greenspan, presidente do Fed (banco central daquele país), sinalizou, em depoimento no Congresso, que o ritmo da atividade econômica permanecia saudável e que as pressões inflacionárias estavam sob controle. A taxa de crescimento da economia norte-americana alcançou 3,5% no primeiro trimestre deste ano e o núcleo do índice de preços ao consumidor atingiu 2,2% em abril. Porém Greenspan assinalou que a persistência das cotações do barril de petróleo acima de US$ 50 estaria afetando o dinamismo da produção.
O presidente do Fed considerou ainda a possibilidade da existência de bolhas especulativas no mercado imobiliário em algumas regiões do país. Os mercados mais especulativos estariam concentrados na costa dos Estados da Flórida e da Califórnia. Todavia Greenspan assinalou que é pouco provável a emergência de bolhas no mercado imobiliário em âmbito nacional. Em sua avaliação, portanto, reduções nos preços das residências, caso venham a acontecer, não produziriam impactos relevantes na economia.
Nesse contexto, o Fed pode continuar aumentando gradativamente a taxa básica de juros da economia. Alguns analistas estimam que a "federal funds rate" será elevada para 4,25% no final do ano. O conteúdo do discurso de Greenspan e reafirmação de uma perspectiva de elevação gradual dos juros norte-americanos devem favorecer a liquidez para os mercados emergentes, como o Brasil. As ações de Greenspan, que também preside o Federal Open Market Committee (FOMC), responsável pela implementação da política monetária dos EUA, parecem emitir alguns ensinamentos.
O FOMC elevou gradualmente a taxa de juros para conter os efeitos expansionistas da política monetária na atividade econômica e no mercado imobiliário sem alardear ameaças generalizadas de pressões inflacionárias, dado que enfrentavam também um choque de preços originado na alta do petróleo e das commodities. O comportamento dos preços dá sinais de que estão retornando gradualmente a seus cursos, após a passagem do choque, sem movimentos abruptos nos juros, na atividade produtiva e no emprego.
Embora comparações entre a economia norte-americana e a brasileira esbarrem nas abissais diferenças que guardam entre si, a habilidade com que Greenspan conduz as expectativas e opera as transições entre conjunturas e cenários contrasta fortemente com a administração da política monetária no Brasil.
Uma das causas desse contraste está no fato de que o Fed não é um guardião de metas inflacionárias e leva em conta em suas decisões aspectos referentes à produção e ao crescimento da economia. No Brasil, ao contrário, o Banco Central concentra-se apenas na inflação, promovendo muitas vezes mudanças bruscas que acarretam sérios problemas para a dinâmica da atividade produtiva.
Entrevista:O Estado inteligente
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