Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 07, 2005

O "MENSALÃO" FOLHA DE S PAULO EDITORIAL

 São estarrecedoras as declarações do presidente do PTB, Roberto Jefferson, em entrevista publicada ontem por esta Folha. O homem a quem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que daria um cheque em branco veio a público para aprofundar e ampliar as proporções da crise política, acusando o PT de prover uma mesada de R$ 30 mil a políticos do PP e do PL, a título de assegurar apoio no Legislativo.
De acordo com Jefferson, o "mensalão", como ele se referiu à compra de parlamentares, era distribuído pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, nome que tem rondado com inquietante assiduidade o noticiário de casos nebulosos na seara petista. A prática teria vigorado até o começo deste ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -sempre na versão do entrevistado- veio a tomar conhecimento do caso por intermédio do petebista.
Jefferson, que se encontra no centro do escândalo de corrupção nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), explicou a lógica do "mensalão" afirmando que é "mais barato pagar o exército mercenário do que dividir poder".
Parece claro que o presidente do PTB, vendo-se na iminência de ser abandonado no episódio das estatais, decidiu bombardear o PT e outros aliados. "Percebo que estão evacuando o quarteirão, e o PTB está ficando isolado para ser explodido", disse na entrevista, referindo-se à "bomba" armada pelas revelações sobre a intermediação de negócios nas duas empresas federais.
Se, por um lado, o famigerado histórico de Jefferson exige cautela em relação ao que diz, por outro, sua familiaridade com os bastidores do poder o torna um profundo conhecedor de situações como essas a que se referiu. Não basta, portanto, como fez o PT, manifestar "surpresa e indignação" e considerar que o caso não tem "fundamento na realidade".
Diante da gravidade do que foi dito, o mínimo que a sociedade pode esperar é uma investigação profunda. Mesmo que o presidente tenha chorado e manifestado indignação ao saber da compra de votos -logo a seguir supostamente suspensa-, haveria outras atitudes a tomar.
Segundo disse ontem o ministro Aldo Rebelo, da Coordenação Política, o presidente pediu informações sobre o assunto depois do relato de Jefferson. Soube então que o caso já havia sido levantado, em setembro, pelo deputado Miro Teixeira (PT-RJ), gerando uma sindicância na Câmara. Como Teixeira, porém, recuou da denúncia, nada foi apurado. É preciso, portanto, reabrir o inquérito. O país precisa de explicações.

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