A denúncia de suborno a vereadores
paulistanos, durante a gestão de
Marta Suplicy, resulta em pedido
de instauração de CPI
Marcelo Carneiro
Paulo Pinto/AE |
MARTA E A CAIXINHA O mensalão da esfuziante ex-prefeita era chamado na Câmara de "cesta básica" |
Uma irresistível força gravitacional arrasta governos do PT em direção a suspeitas da prática do mensalão, o pagamento de propina a parlamentares em troca de votos. No início de maio deste ano, VEJA tornou pública uma grave denúncia: vereadores da Câmara Municipal de São Paulo, na legislatura de 2001 a 2004, recebiam uma mesada de até 120.000 reais mensais para aprovar projetos de interesse da então prefeita Marta Suplicy. O esquema de corrupção foi relatado a dois ocupantes de altos postos na administração tucana do recém-eleito prefeito José Serra, que sucedeu Marta. Em conversas com o presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego, Roberto Scaringella, e com o secretário municipal de governo, Aloysio Nunes Ferreira, o empresário Jorge Moura, dono da empresa Consladel, disse ser o responsável pela manutenção da caixinha para os parlamentares. Moura revelou ainda, de acordo com um relato feito a VEJA por um dos tucanos mais próximos a Serra, que o esquema de suborno também chegava ao Executivo e irrigava o bolso de dois secretários da gestão Marta. Nos quatro anos de governo petista, a Consladel manteve com a prefeitura diversos contratos. Dois deles estão sob investigação do Ministério Público, que também instaurou inquérito para apurar as denúncias publicadas em VEJA. Na semana passada, a situação ficou ainda mais complicada para a turma do mensalão municipal. O vereador Dalton Silvano, do PSDB, recolheu 21 assinaturas e protocolou um requerimento com o pedido de instalação de uma CPI para apurar as suspeitas de pagamento de propina.
O pedido deve ir à votação em plenário. São necessários 28 votos para que a CPI seja instalada. Nos corredores da Câmara, comenta-se que parlamentares da legislatura anterior e servidores da casa só estão esperando a instalação da CPI para apresentar-se espontaneamente e contar o que viram nos quatro anos da gestão Marta. "Nunca houve uma prefeita com tanta maioria na casa como ela. Havia vereadores que só apareciam lá para apertar o botão de sim ou não, de acordo com o que determinava o líder do governo", diz o vereador Dalton Silvano.
Não é de hoje que os petistas convivem com acusações contra o mensalão da perua – a propósito, VEJA usa essa expressão para referir-se a Marta Suplicy na mais elegante das acepções, e amparada em decisão proferida pelo juiz Airton Pinheiro de Castro, da Justiça de São Paulo, que em maio deste ano julgou improcedente uma ação por danos morais, pela publicação da reportagem "Perua na lama", afirmando que a revista se manteve "nos limites da crítica jornalística perfeitamente legitimada pelo sistema jurídico como alicerce da democracia". Pois bem: em novembro de 2003, surgiu o primeiro indício de existência de um mensalão da perua. Em reunião com lideranças da região de São Miguel Paulista, o então vereador tucano Gilberto Natalini, hoje secretário municipal de Participação e Parceria, declarou ser um dos poucos parlamentares que não aceitavam o mensalão, que era conhecido pelo nome-código de "cesta básica". "Não pego 500.000, 1 milhão, para aprovar projetos da prefeitura, embora quarenta dos 55 vereadores façam", disse Natalini, na ocasião. Sua fala foi gravada e divulgada na imprensa. A prefeita Marta processou o vereador, que foi condenado, em primeira instância, ao pagamento de 25.000 reais. Agora, com o pedido de CPI, histórias como essa podem finalmente ser passadas a limpo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário