folha de s paulo
A crise política que atingiu o governo Lula vai afetar de maneira importante o comportamento da economia, nos próximos meses. Disso não tenha dúvida, meu leitor. Os otimistas alegam que os fundamentos de nossa economia são suficientes para isolá-la do turbilhão que atingiu o governo em Brasília. Não acredite nisso. A economia brasileira depende, ainda, de importantes reformas que precisam ser realizadas. Um governo paralisado e sem força política não consegue isso. E o mercado e os empresários sabem disso.
Estamos em um estágio de nosso desenvolvimento no qual os investimentos públicos e privados precisam acontecer para que a economia cresça de forma sustentada. Em uma situação de crise -e com um ano eleitoral se aproximando em grande velocidade-, os empresários vão postergar suas decisões de investimento.
As empresas brasileiras estão em uma situação muito favorável depois de dois anos de resultados excelentes. Reduziram dívidas, acumularam um caixa respeitável e estão trabalhando perto de suas capacidades máximas. A tentação de evitar gastos pesados com a expansão da capacidade produtiva será muito forte. Principalmente agora que a economia dá sinais evidentes de crescimento menor.
O atraso nos investimentos será mais um fator na equação de desaquecimento em 2005 e, principalmente, em 2006. E aí teremos a economia influenciando a situação política. O governo Lula passará a ser questionado em um dos pontos fortes de sua popularidade: a expansão vigorosa do emprego e, em certos segmentos da população, da renda. As próximas pesquisas de opinião vão dar respostas mais claras e permitirão uma melhor avaliação sobre a reação do presidente às mudanças no cenário das eleições do ano que vem.
Duas alternativas se abrem ao analista. Uma delas seria a repetição do último ano de FHC, quando, diante de um quadro eleitoral desfavorável a seu candidato, o governo manteve a racionalidade de sua política econômica. Majorou o preço do gás de cozinha em mais de 70% e, quando a especulação com o dólar exigiu, aumentou vigorosamente os juros.
A segunda possibilidade seria uma guinada na ação do governo e a busca de um caminho populista para tentar recuperar o apoio popular. Esse segundo caminho pode ter matizes diferentes, sendo o mais perigoso deles o de cores semelhantes ao "chavismo" venezuelano. A inspiração para essa alternativa já apareceu na última pesquisa do Datafolha em razão da mudança radical havida no segmento da população com renda mais elevada em relação a Lula. Entre os brasileiros que ganham mais de dez salários mínimos, os que consideram o governo ruim ou péssimo passaram de 17% para 29%. Já o bloco dos que avaliam o governo como ótimo ou bom reduziu-se de 50% para 24%.
Uma terceira alternativa -a do impeachment- pode ser vislumbrada, caso alguma prova definitiva do envolvimento do presidente na compra de apoio no Congresso apareça. Mas essa possibilidade está associada, ainda, a fatos eventuais e imprevisíveis e, portanto, com baixa probabilidade de ocorrer. Mas, de qualquer maneira, a sua simples menção como possibilidade também concorre para uma maior cautela na economia.
Finalmente, devo mencionar um outro cenário assustador e que está na dependência da ocorrência das alternativas listadas acima. Os preços favoráveis da maioria dos ativos brasileiros, principalmente risco Brasil e taxa de câmbio, estão associados a uma presença maciça dos investidores estrangeiros. Seus investimentos foram realizados devido aos resultados econômicos favoráveis dos últimos anos e à política macroeconômica do ministro Palocci.
Um aumento sensível no risco de mudanças bruscas pode provocar um movimento semelhante ao que tivemos no segundo semestre de 2002, embora com intensidade menor. Uma elevação significativa na taxa de câmbio pode abortar o processo de redução de juros que deve ocorrer no último trimestre do ano e adicionar mais lenha na fogueira da situação política do governo.
Entrevista:O Estado inteligente
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