DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado federal Miro Teixeira (PT-RJ) confirma os relatos feitos por Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento de mesadas a deputados federais, mas afirma que o petebista foi mais generoso nas descrições quando esteve em sua sala, no final de 2003.
"O relato do Roberto Jefferson foi mais amplo. Não posso relatar em detalhes, pois não tenho elementos de prova. Mas ele descreveu uma cena de corrupção em um ambiente ministerial a que ele assistiu", afirma Miro.
Segundo Miro diz ter ouvido de Jefferson, na "cena de corrupção" estavam presentes "o ministro, representantes de três partidos e um diretor de departamento".
Esse relato de Jefferson a Miro ocorreu quando o hoje deputado pelo PT ainda era ministro das Comunicações e filiado ao PDT. Já era público que Miro estava de saída de seu partido.
Já de volta à Câmara, no início de 2004, Miro procurou Jefferson. Sugeriu que ambos discursassem sobre as suspeitas de corrupção da tribuna da Casa. "Aí transformaremos o Lula num Lech Walesa", teria respondido Jefferson, numa referência ao sindicalista polonês que fracassou como presidente. O petebista recusou-se novamente a divulgar o assunto.
Folha - Os dois trechos em que o sr. é citado na entrevista de Jefferson à Folha são verdadeiros?
Miro Teixeira - Sim, porém estão incompletos. Quando ele esteve comigo no Ministério das Comunicações, ele me contou tudo. Eu disse: "Vamos agora ao presidente da República". E ele se recusou.
Folha - O sr. não poderia ter falado ao presidente?
Miro - Claro que não, porque a minha prova seria ele [Jefferson].
Folha - Sim, mas era um caso grave. O sr. era ministro. Não deveria relatar reservadamente ao seu superior, o presidente?
Miro - Eu seria irresponsável.
Folha - Por quê?
Miro - Porque não teria como provar. Mas depois que eu voltei ao Parlamento, eu voltei a tentar obter informações. E aí vem a segunda história.
Folha - Como foi?
Miro - Eu encontrei Jefferson no corredor que sai do plenário e vai na direção das salas das comissões. Puxei-o para um canto e disse: "Vamos denunciar essa história aqui da tribuna". Ele se recusou, e aí omitiu novamente na entrevista, que respondeu algo assim: "Aí transformaremos o Lula num Lech Walesa". Talvez ele tenha omitido essa frase por considerá-la irrelevante. Eu disse que era o contrário, que o Lula sairia fortalecido porque ele desconhece isso e aí estaria explicado também o volume de dificuldades por aqui na Câmara.
Folha - E Jefferson?
Miro - Ele não topou. A conversa foi muito rápida. Durou uns 30 segundos.
Não houve, no meu caso, essa história de ouvir quieto. Aqui, teve duas vezes. Teve essa: "Vamos agora ao presidente". E, depois, no Congresso: "Vamos fazer um discurso aqui denunciando".
Folha - Por que, na sua opinião, ele não quis falar em público sobre o que dizia saber?
Miro - Eu não sei. Porque, talvez, as pessoas fiquem constrangidas de falar do corpo da Casa.
Folha - Qual foi o outro fato relatado por Roberto Jefferson?
Miro - Como eu já disse, o relato do Roberto Jefferson foi mais amplo. Não posso relatar em detalhes, pois não tenho elementos de prova. Mas ele descreveu uma cena de corrupção em um ambiente ministerial a que ele assistiu. Foi quando eu o exortei a ir ao presidente da República.
Folha - Quando foi isso?
Miro - Final de 2003. E eu volto à Câmara no final de fevereiro.
Folha - O sr. não poderia elaborar mais sobre qual foi esse ambiente ministerial onde teria se dado a cena de corrupção?
Miro - Foi em torno de uma mesa ministerial.
Folha - O sr. não poderia dizer qual foi o ministério?
Miro - Não, porque eu entraria em um processo. Num crime contra a honra, quem reproduzir responde pelas mesmas penas.
Folha - Quem estava com Roberto Jefferson nessa cena de corrupção?
Miro - Ele descreveu que estavam o ministro, representantes de três partidos e um diretor de departamento. Eu estranho que ele tenha omitido esse relato na entrevista à Folha. Das duas, uma. Ou era mentira e agora ele não a mencionou ou era verdade e ele quer se valer da influência dessas pessoas para protegê-lo -as pessoas que teriam participado dessa tal cena de corrupção que ele diz ter presenciado.
Folha - Na sua sala no ministério, quando relatou esse fato, com quem estava Roberto Jefferson? Estava também o deputado João Lyra (PTB-AL) e quem mais?
Miro - Mais uma outra pessoa.
Folha - Foi o deputado José Múcio Monteiro (PE), líder do PTB na Câmara dos Deputados?
Miro - Não, não foi o Zé Múcio. Não me recordo da terceira pessoa. Não importa, porque ficou mudo, assim como o Lyra.
Folha - Qual a sua avaliação desse episódio todo?
Miro - Tendo ele se recusado a ir ao presidente da República diante de um episódio tão grave -mais grave até do que o que ele está descrevendo hoje-, tenho dúvidas de que ele tenha de fato relatado ao presidente o caso das mesadas aos deputados.
Folha - Como assim?
Miro - Ele diz [na entrevista] que foi ao presidente para relatar um fato que seria estranho ao Poder Executivo. Mas não para relatar o outro... Que era mais direto, na veia...
Miro - É isso. Numa repartição pública. Por isso não tenho tanta certeza de que o Roberto tenha falado com o presidente.
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