Há uma convicção no governo de que os números ruins do primeiro trimestre não significam uma tendência, e, sobretudo, de que a economia entrará no ano eleitoral em crescimento acelerado, deixando para trás o clima pessimista que hoje ela provoca. Na mesma linha, repete-se na equipe econômica que não é possível calcular a carga tributária com base nos resultados trimestrais, pois o que conta é a média anual.
Esse raciocínio, se é correto tecnicamente, não tem ligação, porém, com a percepção do cidadão comum, que sente no dia-a-dia os apertos da política monetária e não aguarda a média anual para reagir a eles.
O que isso significa, em termos políticos, é que as pesquisas de opinião continuarão a registrar a queda da popularidade do presidente Lula enquanto os efeitos da política econômica não surgirem, o que pode afetar o clima político perigosamente, mesmo que os resultados comecem a aparecer no ano eleitoral.
Essa batalha entre o tempo político e o tempo econômico é crucial em um ano eleitoral, e por isso é relevante o compromisso assumido pelo presidente Lula de não fazer qualquer populismo para obter um crescimento de curto prazo que o beneficie eleitoralmente, mas prejudique o desenvolvimento da economia de longo prazo, que é no que ele e a equipe econômica continuam apostando.
É possível que nessa travessia até as eleições algumas peças vitais venham a ser substituídas, como por exemplo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Mesmo que não se substitua a política monetária em vigor. Mas a simples troca pelo atual secretário executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, pode dar um novo fôlego à política tão criticada. Meirelles estaria, além de tudo, muito abalado emocionalmente pela série de acusações que surgem contra ele, sentindo-se frustrado em seu projeto político pelo que considera uma campanha de cunho pessoal.
Além da confiança nos resultados de longo prazo da política econômica, o presidente Lula acredita que algumas medidas "alternativas" que seu governo adotou garantirão o crescimento da economia e o suporte popular para a reeleição. Além dos financiamentos do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica para incentivar a economia em setores cruciais como a construção civil, medidas como o Bolsa Família, os créditos consignados em folha de pagamento, os remédios a preços populares, o vale gás, serviriam para "soldar" o apoio popular à reeleição de Lula.
Essas medidas são classificadas de populistas pela oposição, mas o governo as considera superiores à simples assistência social. Existiriam estudos que mostram que esse tipo de dinheiro faz movimentar a economia com grande intensidade, e é capaz de garantir a base de um crescimento forte do PIB, contra a opinião da maioria esmagadora dos economistas.
O governo age como se o pior momento da crise política já tivesse sido superado, e rearticula sua base de apoio no Congresso para tentar acabar com as chances da CPI dos Correios. Ainda que a unidade da base aliada tenha sido conseguida menos por fidelidade, e mais pelo receio de que acusações de corrupção respingassem sobre todos, o fato é que a situação política hoje parece mais sob controle do Palácio do Planalto do que há alguns dias, e por isso há quem já pense no que fazer depois que a CPI for definitivamente derrotada pelo plenário da Câmara, como planeja o governo.
O problema é que, como sempre, existem no governo divisões básicas. Há o grupo que quer aprofundar a parceria política com o PMDB, e ao mesmo tempo afrouxar os laços que hoje unem o governo a partidos como o PTB e o PP, marcados na opinião pública pela imagem nada edificante de políticos como os deputados Roberto Jefferson e Severino Cavalcanti. Mas há também quem tema problemas políticos com o presidente da Câmara, ou aliados ressentidos como o ainda presidente do PTB.
Ampliar a força do PMDB tem também o objetivo de esvaziar a tese da candidatura própria do partido, inviabilizando os planos do ex-governador Garotinho de concorrer à Presidência da República com a legenda que tem a maior capilaridade entre os partidos políticos, e o maior número de vereadores espalhados pelo país.
A súbita mudança de posição do presidente do Senado, Renan Calheiros, que de manhã prometera ele mesmo nomear os integrantes da CPI dos Correios caso os partidos aliados do governo não o fizessem, e à tarde mudou de idéia, dizendo que esperaria a decisão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara sobre a constitucionalidade da CPI, tem a ver com essa tendência do governo de dar ao PMDB uma posição de destaque na montagem de uma nova equipe ministerial e, em seguida, o lugar de parceiro na chapa presidencial.
A impressão de que as duas estratégias andam juntas veio logo depois, quando Renan "liberou" o Senado de se pronunciar sobre a decisão da CCJ, dizendo que basta a Câmara decidir, o que facilita muito a manobra do governo. A tal ponto que Renan teve que reunir os líderes para prometer imparcialidade. Só o tempo mostrará qual sua verdadeira posição. A oposição se prepara para o pior.
Quando o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) propôs uma renúncia coletiva, não falava com autorização do presidente Lula, mas certamente sabia que o gesto facilitaria uma decisão do presidente, que se incomoda em demitir seus "companheiros", o que terá que fazer para preparar a campanha da reeleição.
Mas a tática, além de colocar em evidência essa característica de Lula que não é bem vista pela população — há pesquisas do PSDB, já citadas aqui na coluna, que mostram que começa a se disseminar na opinião pública a idéia de que Lula não decide — colocaria também em suspenso a única parte do governo que vem se mostrando eficiente, apesar de controversa: a política econômica.
o globo
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
junho
(405)
- Governo de coalizão ou monopólio político?
- Augusto Nunes - Especialista em retiradas
- Miriam Leitão :Melhor em 50
- Merval Pereira :Radicalizações
- Sai daí, Henrique, rápido!-PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
- LUÍS NASSIF:O ajuste fiscal da Fiesp
- Lula lança pacote anticorrupção "velho"
- JANIO DE FREITAS :Um escândalo no escândalo
- ELIANE CANTANHÊDE:ELIANE CANTANHÊDE
- CLÓVIS ROSSI:O Pinóquio da estrela vermelha
- A CADA DIA MAIS GRAVE editorial da folha
- Caixa dois de Furnas engorda propinas do PT, diz J...
- Lucia Hippolitto: Quem manda na República
- Cunhado de Gushiken fatura mais com estatais
- Guilherme Fiuza:Dilma, uma miragem
- Lucia Hippolitto:PMDB nada tem a ganhar se unindo ...
- Villas Boas Lula está sempre atrasado
- DESASTRE POLÍTICO editorial da folha de s paulo
- Fernando Rodrigues - Descontrole quase total
- Merval Pereira - Quadro instável
- Míriam Leitão - Déficit zero
- Tereza Cruvinel - Reforma, apesar da recusa do PMDB
- Luís Nassif - O Grupo "Máquinas e Planilhas"
- Dora Kramer - Publicidade na Câmara
- CLÓVIS ROSSI: O velho morreu, viva quem?
- Tereza Cruvinel - A CPI decola
- Dora Kramer - Casa, comida e roupa lavada
- Lucia Hippolito:"O mistério é pai e mãe da corrupção"
- Um original criador de bois
- LUÍS NASSIF: O tsunami e a economia
- O despertar da militância
- ELIANE CANTANHÊDE:Cadê a mentira?
- CLÓVIS ROSSI: Desânimo continental
- QUEBRA DE PATENTE editorial da folha de s paulo
- AUGUSTO NUNES :Governar é decidir, presidente
- O Congresso não enxerga o abismo -AUGUSTO NUNES
- Luiz Garcia :Falemos mal dos outros
- Arnaldo Jabor :Houve mais uma revolução fracassada
- Miriam Leitão :No descompasso
- Merval Pereira:Normas para a Polícia Federal
- Crise pode afetar a governabilidade
- O dicionário da crise
- A aula magna da corrupção
- O assalto ao Estado
- O homem do dinheiro vivo
- Muito barulho por nada
- Os cofrões do "Freddy Krueger" A ex-mulher de Vald...
- Irresponsabilidade aprovada
- Diogo Mainardi:Dois conselhos ao leitor
- André Petry:Os cafajefferson
- GESNER OLIVEIRA:Agenda mínima para 2005/06
- SERGIO TORRES :Quem sabe?
- FERNANDO RODRIGUES:Gasto inútil
- CLÓVIS ROSSI :A culpa que Genoino não tem
- LULA NA TV editorial da folha de s paulo
- JOÃO UBALDO RIBEIRO :Já não está mais aqui quem falou
- ELIO GASPARI:Circo
- Miriam Leitão :Cenário pior
- O PT e o deslumbramento do poder
- Luiz Carlos Mendonça de Barros : vitória sobre a i...
- Merval Pereira :Controles frouxos
- Ricardo Kotscho:Navegar é preciso
- Villas-Bôas Corrêa:Com CPI não se brinca
- Merval Pereira - Traição e ingratidão
- Míriam Leitão - Diagnósticos
- Luiz Garcia - Onze varas para onze mil virgens
- Celso Ming - Você é rendeiro?
- Tereza Cruvinel - Uma brisa
- Luís Nassif - Te direi quem és!
- Clóvis Rossi - Vergonha
- Eliane Cantanhede - Ao rei, quase tudo
- Dora Kramer - O sabor do prato servido a frio
- entrevista Marcos Coimbra - blg noblat
- Lucia Hippolito :Crise? Que crise?
- augusto nunes Palavrório na estratosfera
- Lucia Hippolito : A face mais bonita da esquerda
- JANIO DE FREITAS: Palavras em falta
- DEMÉTRIO MAGNOLI:Fim de jogo
- CLÓVIS ROSSI :Bravata ontem, bravata hoje
- Miriam Leitão :Estilo direto
- Merval Pereira :Contradições
- Dora Kramer - Aposta no país partido
- Lucia Hippolito : O risco da marcha da insensatez
- Fim de mandato?-PAULO RABELLO DE CASTRO
- ANTONIO DELFIM NETTO:Coragem política
- PLÍNIO FRAGA :O super-homem e a mulher-macho
- FERNANDO RODRIGUES:A utilidade de Roberto Jefferson
- CLÓVIS ROSSI :O torturador venceu
- ABUSOS DA PF folha editorial
- zuenir ventura Haja conselhos
- ELIO GASPARI:Ser direito dá cadeia
- Merval Pereira :Em busca de saídas
- Miriam Leitão : Reações do governo
- Zuenir Ventura:Choque de decência
- Lula:"Os que torciam pelo desastre do governo teme...
- Dora Kramer - A repetição do erro na crise
- LUÍS NASSIF:Os conselhos fatais
- JANIO DE FREITAS :Cortina de fumaça
- ELIANE CANTANHÊDE:Direto de Marte
- CLÓVIS ROSSI:Olhando além do pântano
-
▼
junho
(405)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário