Leonard Garment foi músico de jazz na juventude, quando chegou a tocar com Billie Holiday e Woody Herman. Mas só ficou razoavelmente conhecido em seus anos na Casa Branca, como consultor jurídico dos governos Nixon e Ford.
O escândalo de Watergate não lhe jogou lama nas botinas, mas Garment acabou sendo uma de suas vítimas. Com atraso: seu passo em falso foi dado há cinco anos, quando contou em livro sua exaustiva busca da verdadeira identidade de Deep Throat. Ele examina as possibilidades de dezenas de potenciais informantes dos repórteres, e a certa altura parece quase convencido de que o homem era Mark Felt. Um agente veterano do FBI, convencido de que Richard Nixon planejava controlar e desmoralizar a agência, ele teria bons motivos para ajudar o "Washington Post" a derrubá-lo.
Um dado de seu raciocínio era saboroso: o primeiro pseudônimo do informante de Woodward era "My Friend" — mesmas iniciais de Mark. E o repórter era conhecido por gostar de anagramas e outras brincadeiras com palavras.
Outro fator de convencimento era o fato de que um filho de Carl Bernstein dissera ter ouvido em casa que Felt era o homem. O jornalista afirmou que isso seria apenas palpite da mãe do rapaz, a quem ele nada contara, e Garment acreditou.
Nesses e em outros momentos, ele chegou perto da verdade, mas dela acabou se afastando sozinho. Porque menos investigou do que deduziu. Convenceu-se de que o informante teria de conviver diariamente com Nixon, o que não aconteceria com Felt, preso à rotina diária do FBI. E acabou conferindo a identidade de Deep Throat a um obscuro assessor da Casa Branca, John Sears. Informado de que essa seria a aposta do livro, Sears reagiu com pasmo e indignação hoje inteiramente compreensíveis.
O caso Watergate sempre foi uma lição de jornalismo investigativo, graças ao rigor exemplar do "Washington Post" na seleção e processamento de informações. Cuidados que são naturais em quem sabe que a responsabilidade final pela informação falsa não é de quem a oferece, mas de quem a publica. O equívoco de Garment também pode ser considerado pedagógico: demonstra a falácia — ou a soberba — de se acreditar que o aparentemente óbvio (ou intelectualmente evidente) é sempre verdadeiro.
O investigador competente trabalha com fatos; o incompetente e o apressado manejam deduções e certezas morais. O primeiro gasta porções iguais de sola de sapato e inteligência; o segundo, apenas suas células cinzentas. A segunda opção é quase invariavelmente uma roubada.
São lembretes pertinentes para um ambiente jornalístico viciado em denunciar escândalos sem antes suar a camisa para confirmação de acusações — ou sequer procurar conhecer a real motivação dos semeadores de denúncias. Como vemos por aqui — não sempre, mas com preocupante freqüência.
Entrevista:O Estado inteligente
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