BLOGRicardo Noblat
"E lá se foi o ministro José Dirceu. Fragilizado, atacado por adversários e até por alguns aliados, insatisfeitos com seu estilo truculento de fazer política, bombardeado por denúncias de que seria o cérebro de uma camarilha que loteou a administração pública brasileira e passou a distribuir mesadas a deputados.
Mas não era só a performance de José Dirceu como articulador político que era criticada por amigos e inimigos. Também seu desempenho como supergerente do governo deixou muito a desejar. Para muitos ministros, a Casa Civil era uma espécie de túmulo de projetos. Tudo tinha que ser enviado ao ministro José Dirceu. E a maioria morria ali mesmo.
O ministro se envolvia em tudo, requeria participação em tudo. Chegou a coordenar mais de 70 grupos de trabalho, comissões interministeriais e comissões de alto nível que tratavam dos mais variados assuntos, desde o novo perfil das agências reguladoras, passando pelo fracassado acordo entre a Varig e a TAM, chegando mesmo aos projetos de interligação dos bancos de dados do país e a adoção do software livre nos computadores do governo. Resultado: nada andava.
Mais ainda, José Dirceu foi acusado de inchar a máquina pública, criando milhares de cargos em comissão, para os quais indicava companheiros petistas.
Tudo isto começou a desmoronar em fevereiro de 2004, quando Waldomiro Diniz, assessor especial e amigo de José Dirceu, foi apanhado em flagrante pedindo dinheiro ao empresário de loterias Carlinhos Cachoeira.
A partir daquele dia o governo Lula nunca mais foi o mesmo. O tão decantado patrimônio ético do PT trincou-se para sempre, e José Dirceu transformou-se no que em política se chama um pato manco.
Se tivesse deixado o governo, se não tivesse liderado a operação abafa que abortou a CPI dos bingos, provavelmente José Dirceu não estaria saindo agora do governo como quem foi demitido por Roberto Jefferson.
É fácil listar todas as razões pelas quais José Dirceu está saindo, e está saindo tarde. Mas não é possível ignorar que o espaço que Dirceu ocupou lhe foi aberto pelo presidente Lula.
José Dirceu nunca deixou de afirmar que fazia o que fazia por determinação, ou de comum acordo com o presidente Lula.
Nos dois anos e meio de governo, enquanto Dirceu coordenava não-sei-quantos comitês, criava não-sei-quantos cargos, articulava não-sei-quantos partidos, Lula fazia metáforas, viajava, recebia Zeca Pagodinho e o jogador Ronaldinho e não ocupava o espaço de poder que compete ao presidente da República.
Pelo tom do discurso de despedida, José Dirceu deu pistas de seu futuro desempenho na Câmara. A temperatura vai subir."
Entrevista:O Estado inteligente
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