Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 13, 2005

Jarbas Passarinho:"Ao contrário de Getúlio, Lula não enfrenta uma oposição golpista"

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De São Paulo
Valor Econômico
13/6/2005

 Aos 85 anos, o ex-senador, ex-governador do Pará e ex-ministro nos governos Costa e Silva, Médici, Figueiredo e Collor, Jarbas Passarinho vai todas as manhãs à Confederação Nacional da Indústria, onde trabalha como consultor. A idade e a função não diminuíram seu interesse pela política. Passarinho aposta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sairá com poucos arranhões da CPI, desde que mude o governo e diminua o espaço do PT na administração. Não vê intenções golpistas na oposição.

É nostálgico do tempo em que foi líder do governo no Senado, no regime militar. Naquela época, os congressistas eram impedidos de propor emendas ao Orçamento. O ex-senador acredita que esta velha norma deveria ser ressuscitada. Diz estar espantado com o mensalão, algo que garante jamais ter ouvido falar nos seus 24 anos de Congresso. E é cético em relação às investigações. "Como irá se provar a existência do mensalão? Quebrando o sigilo bancário de 50, 100, 150 deputados? Isso não se prova. A própria existência da CPI dos Correios, limitando as investigações vai impedir uma CPI do Mensalão", afirma. Passarinho concedeu a seguinte entrevista ao Valor:

Valor: A CPI do Orçamento aconteceu exatamente entre outubro de 1993 e janeiro de 1994, durante a revisão constitucional, que não foi muito profícua. A CPI parou o país?

Jarbas Passarinho: CPI não pára nada. São 32 parlamentares em um grupo de quase 600. A revisão constitucional, cujo relator foi Nelson Jobim foi paralisada pela oposição radical da esquerda, que chegava até a impedi-lo de sair do gabinete. Mas a tese de que a CPI parava o país foi usada como pretexto para impedir a prorrogação dos trabalhos da CPI do Orçamento. Forçada a se encerrar em janeiro, apuramos responsabilidade em relação a 18 parlamentares. Com a prorrogação, poderíamos chegar a 30, mas o PFL impediu, em nome da revisão. Eu reclamei muito com o deputado Luiz Eduardo Magalhães, que era o líder da bancada e não quis prorrogar. Era um argumento para não deixar que fôssemos mais fundo.

Valor: Ainda assim, a CPI resultou em um grande número de cassações no Congresso. Como foi a pressão sobre a comissão?

Passarinho: Como é de conhecimento geral, o governo federal deu um exemplo de ética, já que o ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, se afastou quando seu nome surgiu nas investigações. Depois voltou quando nada se provou. Faço justiça também ao presidente do Senado, Humberto Lucena, do PMDB. Ele cedeu a presidência da comissão para o PDS, já que haveria muitos nomes do PMDB que seriam investigados. Poderia ter ficado com o comando da CPI, mas não quis para que houvesse isenção.

Valor: O sr. concorda com a frase "CPI se sabe como começa, mas não como termina"?

Passarinho: Não. Esta é uma frase muito infeliz. O que há são CPIs que não se concluem, que se perdem no caminho. No caso da CPI do Orçamento, sabia-se exatamente a dimensão do corte na carne que iria ser feito. Dois anos antes da sua instalação, o deputado Jaques Wagner, do PT, apresentou um requerimento de CPI exatamente para investigar o escândalo dos anões, mas naquela época não houve comissão. O presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, não indicou os representantes e o requerimento foi arquivado, em um episódio muito parecido com o que envolveu o Sarney em relação à CPI dos Bingos no ano passado. A diferença é que Sarney, ao que parece, tinha mais amparo regimental.

Valor: O sr. acompanhou de perto as crises de Getúlio Vargas, João Goulart e Fernando Collor. Há algum paralelo com a situação atual?

Passarinho: Não há comparação possível com estas situações. O Getúlio e o Lula até podem ser parecidos, na honestidade pessoal e nos problemas que os cercam. Há quem diga que o Lula sabe de tudo o que ocorre dentro do PT, já que o partido tem uma estrutura leninista, onde a cúpula decide e o resto obedece, não sei. O fato é que a oposição hoje é muito diferente da do Lacerda, da UDN, que queria o fim do governo de Getúlio pura e simplesmente. Não há mais udenismo. (CF)

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