De um dia inteiro de incontáveis considerações sobre um tema único, duas sobressaem por frases tão ligeiras quanto incisivas.
Uma, do deputado Miro Teixeira, a meio da sua confirmação de que, ainda ministro do governo Lula, ouviu do deputado Roberto Jefferson a existência do suborno mensal a parlamentares: Jefferson "não falou tudo ainda". Logo, não só também Miro Teixeira sabe de mais do que foi tornado público, como leva a concluir que não bastará a contestação ou confirmação do suborno e das outras revelações presentes na entrevista de Jefferson. É necessária investigação que vá além, porque já se sabe que há esse além, o não falado ainda.
O outro trecho realçado é uma das frases no comentário do governador Marconi Perillo, de Goiás: (...) "mais ou menos em fevereiro, também avisei ao presidente", sobre pagamentos a parlamentares. Da parte da Presidência já não se trataria, portanto, apenas do fácil desmentido a Roberto Jefferson.
Se integrarmos as duas afirmações, basta anexar uma contradição de Roberto Jefferson, na entrevista a Renata Lo Prete, para admitir que o suborno mensal de parlamentares não se encerrou quando informado a Lula, seja por Jefferson ou pelo governador.
Perguntado sobre "o que fez o presidente Lula diante de seu relato" do suborno, Roberto Jefferson diz que o pagamento "parou, tenho certeza de que parou, por isso esta insatisfação aí na base [os parlamentares governistas]. Ele meteu o pé no breque".
Afirmação que estava desmentida com larga antecipação, desde que Lo Prete, ouvida a narração da alegada denúncia do "mensalão" feita a Lula por Jefferson, colhera longa resposta assim encerrada: (...) "o mensalão contaminou a base parlamentar. Tudo o que você está vendo aí nessa queda-de-braço é que o mensalão tem que passar para R$ 50 mil, R$ 60 mil. Essa paralisia resulta da maldição que é o mensalão".
Se a Câmara está paralisada e há queda-de-braço entre a base governista e o governo pelo valor do mensalão, é claro que o suborno mensal não cessou. O breque de Lula, supondo-se que tentado, não segurou o desgoverno da sua condução presidencial. Como sempre, aliás.
O governador Marconi Perillo, referindo-se ao pagamento a deputados, fala de ação do governo, não do PT, e essa é uma precisão necessária. Roberto Jefferson também não falou em PT, ou em pagamento pelo partido, mas em "pagamento feito por Delúbio Soares", tesoureiro do PT. Talvez decorrente do título apressado do jornal para a entrevista de Jefferson, a imprecisão encobre involuntariamente um agravante no episódio: desde o começo do governo, Delúbio Soares passou a despachar e receber políticos dentro do Palácio do Planalto. Assim como o secretário do PT, Silvio Pereira, envolvido em várias das nomeações que estão, agora, sob suspeitas ou acusações.
Para que Delúbio e Silvio, se limitadas suas atividades às de tesoureiro e secretário de partido, precisariam operar de dentro da Presidência da República, impropriedade aqui registrada mais de uma vez? Ambos, no entanto, têm agido e falado, notoriamente, como integrantes autorizados do governo. O que dá dimensão muito diferente à denúncia do suborno de parlamentares, em comparação com o pagamento feito de um partido a outros partidos.
É impossível não concluir que levaram para a Presidência a concepção, formulada por Lula, de que "no Congresso há 300 picaretas". Mas, para que haja picaretas, há também a sua contraparte.
Entrevista:O Estado inteligente
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