Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 09, 2005

JANIO DE FREITAS :Tudo à vista

Folha de S Paulo
 A entrevista sem respostas, propriamente, do acusado Delúbio Soares, tesoureiro do PT, teve o mérito de evidenciar a tática escolhida pela Presidência da República em relação à denúncia do deputado Roberto Jefferson. Está explicitada nestas frases gaguejadas em nervosa insegurança:
"O PT não participa de compra de votos" / "O PT não compra voto e apoio de deputado" (essa, dita duas vezes).
Ocorre que o PT não foi acusado de fazê-lo, seja por Roberto Jefferson ou outra pessoa. Dizer que Delúbio Soares é tesoureiro do PT, como faz Roberto Jefferson na entrevista-denúncia à Folha, é simplesmente identificá-lo, pois afinal a notoriedade não o alcançara antes da presente acusação de entregar o suborno mensal a deputados do PP e do PL.
Entre a necessária identificação da pessoa e a hipotética acusação ao PT, o que há é uma falsificação dos fatos para favorecer a Presidência da República, beneficiária dos votos de parlamentares subornados. E na qual Delúbio Soares era encontrado por políticos e por repórteres. A Presidência da República joga o problema do mensalão para o PT.
A idéia mais forte de defesa de Delúbio Soares foi a oferta de abertura dos seus sigilos bancário e fiscal. Para quê?
Ninguém acusou Delúbio Soares de subornar deputados com dinheiro seu ou operado por suas contas e transações pessoais. Além disso, no ano passado a Folha tornou pública a compra de um imóvel, por Delúbio Soares, com pagamento em dinheiro vivo. Prática usual de quem não inclui nas contas bancárias e na relação de bens tudo o que possui. No caso de Delúbio Soares, se suas contas revelarem algo de útil, por certo não será em sua defesa.
O aturdido Delúbio Soares, figura até há pouco tão imbuída da presunção comum à cúpula do governo e do PT, teve a colaboração de José Genoino para transformar a possível entrevista em duplo vexame. Mas foi, ainda mais, pelo nervosismo de ambos, um bom indicador da existência de motivos fortes para suas aflições.
Genoino bem que passou orientações escritas ao entrevistado. Em vão. Delúbio Soares não entendeu, não leu, e Genoino afinal levantou-o, deu um berro de "chega, acabou", e empurrou seu parceiro porta afora.
Para chegar a essas cenas, a direção do PT e o pessoal da Presidência da República levaram três dias.
É justa, porém, a decisão petista de não afastar Delúbio Soares do seu cargo na direção partidária. Não por ele. Mas porque não é o único a precisar responder nessa novidade de mesada subornadora de parlamentares.

Gaiatice
O senador Eduardo Suplicy foi retirado, por José Genoino, da chapa em que disputaria a próxima eleição interna do PT, e logo se divulgava sua futura punição, por ter assinado o requerimento da CPI dos Correios. Agora, a direção do PT decidiu apoiar a CPI, já que não pode evitá-la. Quem fez o papelão, Suplicy ou Genoino?

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