"Dinheiro de mensalão vinha de estatais e empresas, diz Jefferson".
Essa é a manchete da Folha de S. Paulo que começou a circular.
Dinheiro do mensalão chegava a Brasília em malas
Da Folha de S. Paulo:
"Em nova entrevista exclusiva, o presidente do PTB afirma que mesada para parlamentares chegava a Brasília em malas.
- Este dinheiro chega a Brasília, pelo que sei, em malas - diz Jefferson. "Sei que as direções do PP e do PL recebiam".
O presidente do PTB afirma não ter provas, mas diz que em depoimento na Câmara na próxima terça-feira vai contar tudo o que "vivenciou" nesta "relação de dois anos e meio com o PT".
A discussão sobre cargos entre os dois partidos acontecia, segundo ele, no Palácio do Planalto, em sala "ao lado do gabinete do ministro José Dirceu".
Jefferson, que se diz contrário ao recebimento do mensalão entre deputados do seu partido, fechou, porém, outro acordo com o PT.
Em troca de apoio ao governo, os petistas financiariam campanhas municipais do PTB em 2004. Teria sido aprovada verba de R$ 20 milhões. "O primeiro recurso chegou na primeira quinzena de julho: R$ 4 milhões, em dinheiro, em espécie", descreve Jefferson.
Segundo ele, as demais parcelas não vieram.
"Essas coisas foram esticando a corda, tensionando a relação do PTB com o PT".
Na entrevista, Jefferson poupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Deixaram (os ministros petistas) o presidente completamente desinformado de algo que viciou a relação do governo e do comando do PT em especial com a base aliada do Congresso".
SOBRE NEGOCIAÇÃO DE CARGOS
"Noventa por cento das conversas eram no Palácio do Planalto, numa salinha reservada ao Sílvio Pereira (secretário-geral do PT). De vez em quando o Delúbio (tesoureiro do PT) metia a mão na porta, entrava, sentava, conversava e saia. O Zé Dirceu, também. O José Genoino, também."
SOBRE DENÚNCIAS E FUTURO
"Não temo, não. Depois do que eu já disse, se fizerem alguma coisa comigo, cai a República. Creio em Deus.
Rezo. Estou muito seguro de que estou fazendo o bem tanto para meu partido, lavando o rosto do meu partido, quanto à sociedade brasileira. Tenho certeza de que as coisas serão diferentes a partir de agora".
"O Genoino parecia um cão de guarda" do Delúbio
* "José Janene [líder do PP] é um dos operadores (do mensalão). Ele vai na fonte, pega, vem."
* "Se você perguntar: 'Tem prova? Fotografou? Gravou?'. Não. Mas era conversa cotidiana na Câmara."
* "Foi pedida ao PTB, pelo Genoino [José Genoino, presidente do PT] e pelo Delúbio, uma planilha de campanhas a prefeito que o PT financiaria para nós. Apresentamos uma planilha de R$ 20 milhões. Esse recurso foi aprovado pelos dois e pelo Marcelo Sereno (na época sub-chefe do Gabinete Civil)."
* "Achei que ele [Delúbio Soares, tesoureiro do PT] foi fraco. Não teve como enfrentar a imprensa. O Genoino parecia um cão de guarda. A meu ver, Delúbio não convenceu."
"Ele se apresentava como o operador do Zé Dirceu"
Da entrevista de Jefferson à Folha:
* O dinheiro para pagar o mensalão "vem de operações com empresas do governo e com empresas privadas. (...) É transferência de dinheiro à vista. Esse dinheiro chega a Brasília, pelo que sei, em malas. Tem um grande operador que trabalha junto a Delúbio chamado Marcos Valério que é um publicitário de Belo Horizonte. É ele que faz a distribuição dos recursos. Sei que o deputado José Janene (PP-PR) é um dos operadores. Ele vai na fonte, pega, vem, é tido como um dos operadores do mensalão. Inclusive eu já vi o ministro José Dirceu muito irritado com ele porque ele se apresentava como o operador do Zé Dirceu. Ele também é um dos homens que constrói o caixa para repartição entre deputados do PP e do PL.
(...)
"Ele (Marcos Valério) é operador de Delúbio desde o início do governo. Janene faz a mesma operação. É de conhecimento notório.
(...)
"Isso (a relação de deputados que recebiam o mensalão) eu vou deixar para a imprensa investigar. Mas eu sei que as direções do PP e do PL recebiam. Eles insinuaram isso ao José Múcio (líder do PT na Câmara). Eu quero dizer aqui que quando Zé Mucio veio conversar comigo a primeira vez, quando o Delubio o procurou, o Múcio veio a mim e disse: "Roberto, estou com você. Sou contra receber mensalão". Nós já sabíamos naquela época, meados de 2003, que havia esse repasse de recursos ao PL e ao PP."
"Os ministros foram covardes com o presidente"
Da entrevista de Jefferson à Folha:
* Quem trouxe o recurso (grana do PT para pagar despesas de campanhas do PTB no ano passado) à sede do PTB foi Marcos Valério (publicitário mineiro) em malas de viagem. Eu e Emerson Palmiere, tesoureiro informal do PTB, dividimos esses recursos entre os candidatos e assumimos o compromisso, que era o de Genoino comigo, de que outras parcelas viriam. Elas não vieram. E os candidatos do PTB que haviam assumido compromissos de campanha entraram em crise brutal.
* Não tenho nenhuma fita. Eu vou relatar fatos que vivi neste ano e meses que presido o PTB. Das reuniões que tive com Genoino, Delúbio, Sílvio Pereira e José Dirceu. Das conversas que tivemos tanto para construir alianças do PTB com o governo quanto a aliança eleitoral do PT com o PTB.
* Os ministros foram covardes com o presidente. O ministro Palocci, que sabia do mensalão porque eu falei prá ele; o ministro Walfrido, que não falou para o presidente; o ministro Ciro Gomes sabia; o José Dirceu, conversei com ele várias vezes sobre o mensalão; e deixaram o presidente completamente desinformado.
Entrevista:O Estado inteligente
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