O Estado de S. Paulo |
8/6/2005 |
Governo agiu premido pelo risco de ser atropelado por seus equívocos Pelo visto, um perigo maior que o golpe de Estado ou a antecipação da campanha eleitoral se apresentou às almas residentes no Palácio do Planalto e suas áreas de influência. Em questão de horas, ministros, deputados, senadores, dirigentes do PT e de partidos aliados transpuseram suas firmes convicções contrárias a investigações políticas, para o lado oposto. A contar pela veemência exibida ontem por petistas e governistas na defesa não só da CPI dos Correios, mas também de uma comissão de inquérito para apurar a denúncia das mesadas, nem parece que mais de 20 dias transcorreram antes de o governo decidir levar em conta algo além de suas circunstâncias e render-se ao óbvio. Rendeu-se à demanda da opinião daquela parcela do País que lê, vê, escuta, interpreta, soma, subtrai e conclui, depois de menosprezá-la dias a fio. Foi preciso Roberto Jefferson tomar uma providência, pôr na roda o tesoureiro do PT - que até ser instado a conter suas andanças fazia e acontecia nos mais poderosos gabinetes da República -, para o presidente Luiz Inácio da Silva perceber que o ambiente não recendia a rosas. Rendeu-se à inevitabilidade da CPI, bem como rendeu-se à evidência de que chegara ao esgotamento o uso de instrumentos protelatórios cujo efeito cumulativo na últimas semanas foi aliar firmemente o PT e o Planalto ao conceito da conivência. Rendeu-se ao constrangimento extremo traduzido no semblante lívido do presidente do PT, José Genoino, na manhã de segunda-feira, dando a primeira entrevista da semana à luz das revelações de Roberto Jefferson. Recuou em função do risco de a economia sofrer as conseqüências da balbúrdia instalada na área política que, por pouco, não consome o capital de boa imagem de que ainda dispõe o ministro da Fazenda. Recuou diante do evidente equívoco de enfrentar uma questão séria como a denúncia da corrupção nos Correios, na base na prepotência, da ironia e do pouco caso. Isso a despeito de muita gente dentro do governo ter defendido, durante todo esse tempo em que o aprofundamento do desgaste poderia ter sido evitado, um outro tipo de atitude: de firmeza para com envolvidos em suspeitas e de naturalidade no tocante a investigações. Governos e governistas ontem buscavam neutralizar a incongruência dizendo que o apoio à CPI veio agora em conseqüência de um "amadurecimento" de posições. Se dissessem que a decisão caiu de madura - quase podre -, estariam mais perto da verdade. Não foi por livre e espontânea vontade que o PT e o governo voltaram atrás. Foram tangidos pelos fatos. O presidente da República que tanto orgulha-se de não agir pautado por "manchete de jornal" agiu exatamente assim, e não pautado pelas balizas de seu discernimento sobre o que seja aceitável em seu governo. Não foi a primeira vez, aliás. Na recente discussão sobre a reforma ministerial, o presidente só tomou uma atitude - a de decidir pela não-reforma, uma não-atitude, portanto - quando premido pela insolência do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, na cobrança da ocupação de um naco do Estado para um apaniguado seu. Agora tampouco houve o exercício da iniciativa. O PT viu-se obrigado mais uma vez a adaptar convicções a ocasiões, acreditando ser possível fazer isso sem prestar contas às palavras ditas e a posições anteriormente assumidas. Além do quê, o partido e o governo recorrem a um truque. Defendem com ênfase um processo de investigação restrito à Câmara dos Deputados, obviamente por considerar que, como estão lá os acusados de receberem mesada das mãos do tesoureiro Delúbio, o ambiente seria mais propício a flexibilização de colunas vertebrais. Não percebem que esses estratagemas - criminalização do acusador, lançamento de suspeições conspiratórias, oratória enfática, argumentação sofismática, gestos de efeito mas sem conteúdo - já perderam o prazo de validade exatamente pelo excesso de uso. Por isso, ações artificiais têm pouca chance de surtir efeitos concretos. Sem fazer as pazes com a coerência e estabelecer novos compromissos de respeito à realidade, o governo não conseguirá enfrentar com racionalidade investigações políticas e muito menos governar. Familiaridade O maior problema da denúncia feita pelo presidente do PTB, por mais absurda que pareça a possibilidade de uma centena de deputados receberem mesada para apoiar o governo, é que a história soa plausível. Ainda que seja tudo obra de um deputado acuado por acusações de toda sorte, só o fato de congressistas, ministros do Supremo, integrantes do governo, profissionais de destaque em variados setores absorverem o assunto como pauta de discussão já é grave. Significa que não é desatinada nem inverossímil a hipótese de a construção da maioria parlamentar ter sido mesmo fundada na base da compra de - como diz o deputado Roberto Jefferson - "um exército mercenário". O articulador O tesoureiro Delúbio Soares leva a fama, mas o homem responsável pela concepção do modelo de relação entre o Executivo e o Legislativo é o ministro José Dirceu. Calado na Europa, o chefe da Casa Civil subtrai do País sua contribuição do debate em curso. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, junho 08, 2005
Dora Kramer - Tangidos pelos fatos
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