folha de s paulo
A crise política e as denúncias de corrupção podem minar a política econômica e abalar a economia brasileira? É a pergunta que muitos fazem. Vou tentar responder. Mas antes um comentário: Não se deve esquecer que o que abala a economia é a própria política econômica, mais especificamente a combinação desastrosa de juros altos e câmbio valorizado.
Bem. Essa última frase foi só para não perder o hábito. Passo então ao tema do momento. Nas últimas duas semanas, os mercados financeiros ficaram turbulentos e voláteis. O receio é que o presidente da República possa ser aconselhado a dar uma guinada na política econômica, de tipo "populista", para tentar evitar o naufrágio eleitoral em 2006. Noticia-se que alguns assessores do presidente alimentam a esperança de dar a volta por cima. A salvação viria de políticas monetárias e fiscais mais flexíveis, que pudessem estimular a produção e a criação de empregos.
A esperança é compreensível. Não há dúvida de que a estagnação e o desemprego constituem um fardo difícil de carregar. O desempenho medíocre da economia aumenta a vulnerabilidade de qualquer governo -e mais ainda a de um governo que carrega o estigma da traição e do estelionato eleitoral.
Se o Brasil estivesse crescendo como a Argentina, a China, a Rússia ou a Índia, seria bem mais fácil enfrentar o estrago produzido pelos escândalos políticos. O ex-presidente Bill Clinton, por exemplo, sobreviveu a escândalos tremendos (de outra natureza) basicamente porque a economia dos Estados Unidos atravessava uma fase gloriosa. Na época, os americanos perguntavam: "Não dá para fazer o impeachment do presidente da cintura para baixo?".
Nas circunstâncias atuais do Brasil, contudo, o receio (ou a esperança) de uma guinada na política econômico-financeira é ilusório. O governo Lula tem sido, desde o início, um governo parcialmente interditado. Não chegou a tomar posse no Ministério da Fazenda e no Banco Central. Agora é tarde demais para fazê-lo.
Normalmente, uma crise política, ao enfraquecer o governo, enfraquece também a política econômica. Não é o que vai acontecer agora. E por um motivo simples: a política econômica não pertence a Lula.
A tendência é ocorrer justamente o contrário. Se não for longe demais, a crise política irá fortalecer a equipe econômica, pois ela está atingindo pesadamente seus principais adversários na Esplanada dos Ministérios. Como se sabe, a área política, em particular o ministro José Dirceu, funcionava como um contrapeso, ainda que frágil e problemático, ao ministro da Fazenda.
Os desdobramentos são mais ou menos previsíveis. O presidente será pressionado a sacrificar os mais diretamente comprometidos com os esquemas de corrupção e compra de deputados. Ao mesmo tempo, os donos do poder real irão mobilizar-se para criar um cordão sanitário em torno da equipe econômica, a "parte sadia do governo". Poucos farão questão de lembrar que os esquemas de corrupção administrados pela "parte podre do governo" destinavam-se, em grande medida, a viabilizar a votação no Congresso da agenda econômica da "parte sadia do governo".
O presidente da República caminha a passos largos para se tornar o que os americanos chamam de "lame duck" (pato manco). Sua reeleição corre riscos, evidentemente. Se ainda conseguir se reeleger, o seu segundo mandato será provavelmente bem mais melancólico do que o primeiro.
Lech Walesa manda lembranças.
Entrevista:O Estado inteligente
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