Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 03, 2005

ATAQUE À CPI

 Não deixa de ser reconfortante observar quão profundo pode ser o empenho do governo na defesa de suas interpretações da Carta Magna, mas o que está em curso na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), que apreciará o pedido de abertura da CPI dos Correios, infelizmente não corresponde a um impulso constitucionalista do Planalto e de sua base de apoio.
Trata-se de uma clamorosa manobra política com o intuito de impedir o inquérito parlamentar. Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de volta de sua viagem à Ásia, tenha ponderado que seria difícil "matar" a comissão, sendo preferível trabalhar para controlá-la, vislumbrou-se uma oportunidade de abafar o processo na CCJ -e ela está sendo usada sem escrúpulos. Deputados do PT e de partidos aliados que assinaram o pedido de investigação estão sendo substituídos na CCJ por parlamentares contrários à CPI.
O Planalto vai atraindo também o presidente do Senado, Renan Calheiros, que ontem se reuniu com o presidente da República e o ministro Aldo Rebelo, da Coordenação Política, para acertar o roteiro que será seguido nas próximas semanas. Os governistas avaliam que, no máximo em duas semanas, farão valer a maioria na CCJ e conseguirão rejeitar o requerimento em plenário.
Especula-se que, na seqüência, o Planalto, dentro de um movimento mais amplo para retomar a iniciativa política, voltaria a tratar da reforma ministerial, começando pela troca do próprio Rebelo pelo ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha.
À oposição restará se agarrar a expedientes protelatórios, tentar recorrer ao Supremo Tribunal Federal e preparar uma contra-ofensiva no Senado -onde poderá propor uma nova CPI. Com efeito, os sinais são de que aumentaram em muito as chances de o governo evitar um inquérito envolvendo as duas casas. O que não é certo é se também conseguirá contornar o desgaste provocado por essas manobras, que causam crescente indignação entre os próprios eleitores e partidários de Lula.

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