Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, outubro 09, 2008

VINICIUS TORRES FREIRE As empresas precisam se explicar



Se o BC oferece dinheiro para ajudar empresas, é preciso que o público fique sabendo quem fez besteira no câmbio

"LULA NÃO quer ver empresa quebrar", era o que se ouvia ontem de gente graúda do governo, com variações mais ou menos grandiloqüentes. Isto é, muita gente do governo afora o Banco Central, que não usa a palavra "quebrar" nem está dizendo coisa alguma além das inanidades de costume, "país mais preparado, apesar da crise grave", "muita calma nesta hora" e afins. Do que Lula está falando?
O governo se refere ao vexame das perdas de empresas como Sadia e Aracruz com engenharias cambiais da lavra de gente que deveria estar brincando de videogame, e não conduzindo as finanças de companhias que empregam milhares de pessoas.
O dólar a quase R$ 2,50 era motivo suficiente para o BC queimar reservas. Talvez os desejos expressos por Lula, o Salvador, tenham sido o piparote que levou o BC a vender dólar em dinheiro vivo e a relaxar mais uma vez o compulsório (dinheiro que os bancos estacionam no BC).
Mas tem mais coisa aí? Primeiro, apesar da boataria, não há medida do estrago causado pelas operações irresponsáveis e ineptas com câmbio. Sadia e Aracruz, aliás, nem explicaram exatamente em que se meteram (mas uma dessas empresas ligou desesperada para o governo logo no dia em que descobriu o tamanho da besteira, pedindo socorro).
Pelo menos outras duas empresas que tinham citado tais operações ("target forward") em notas dos balanços de junho ainda estão quietas, embora a escala absoluta e relativa de suas apostas tenha sido bem menor que a da Sadia e da Aracruz.
Uma dúzia de empresas negou em público que tenha feito hedge além do convencional. Verdade? Se é o caso, alguém propagandeia dificuldades para ganhar facilidades?
Segundo, também não se sabe se as empresas do videogame financeiro tinham alguma outra cobertura ou se bancos ficaram a ver navios por serem a contraparte desses negócios. Há apenas rumores, embora a observação do resultado do fluxo cambial, do mercado de câmbio na BM&F e a louca desvalorização do real nas últimas três semanas indiquem que tem gente fazendo farra para pressionar a cotação do dólar e/ ou empresa no bico do corvo.
De resto, o governo redigiu uma medida provisória vaga a respeito da natureza dos empréstimos que o BC poderá oferecer a bancos em troca de garantias irritantemente vagas, tanto na natureza como no preço.
Tudo isso posto, e como há menos transparência no mercado financeiro do Brasil do que no balanço do pior banco falido dos EUA, a gente fica de orelha em pé. Os dinheiros das reservas cambiais (e outros) vão salvar, direta ou indiretamente, que tipo de inépcia cambial? Acumular reservas custa muito ao país.
Ok, reservas são empilhadas justamente para atenuar crises. Mas o emprego desse investimento público caro precisa de explicações -no mínimo prestação de contas posterior, pública e privada. Afinal, empresas e/ou bancos estão pedindo água, fora do mercado, para reparar suas estripulias -quando fizeram dinheiro, não o distribuíram na praça nem deram uma gorjeta ao BC.
No mercado, ninguém está fazendo o favor de ajudá-las -o mercado está justamente arrebanhando caixa e fechando as porteiras. Quando é que vamos saber quem fez besteira?

vinit@uol.com.br

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