As medidas podem dar uma indicação às autoridades dos EUA sobre como melhorar as propostas adotadas no país |
EM BOA PARTE dos 12 meses passados, as autoridades financeiras britânicas pareciam amadores atrapalhados diante do colapso do setor bancário. Agora, por fim -ainda que tardiamente-, elas fizeram algo direito.
Ontem, Alistair Darling, ministro de Finanças do Reino Unido, anunciou que o governo gastaria até 400 bilhões de libras para amparar os bancos. Além dos zeros, a única coisa mais espantosa é o fato de que Darling esteja agora no comando de um pacote de medidas possivelmente mais sensatas do que quaisquer outras já adotadas.
O pacote faz parecer que os mandarins britânicos por fim aprenderam a extrair lições sensatas do passado, especialmente das crises do Japão e da Suécia nos anos 90. Ainda mais surpreendente, as medidas propostas podem oferecer alguma indicação às autoridades norte-americanas sobre como melhorar as propostas adotadas em seu país.
Há pelo menos três motivos para celebrar. O primeiro é que o governo britânico reconheceu algo que os americanos continuam relutando em admitir: que quando uma crise bancária é séria a esse ponto, faz mais sentido recapitalizar os bancos comprando ações preferenciais do que seus ativos sem valor.
Colocar dinheiro direto nos bancos é uma maneira rápida e transparente de ajudá-los. Além disso, a idéia funcionou bem quando adotada por Japão e Suécia. Melhor ainda: ambos acabaram recuperando a maior parte do dinheiro investido.
Um segundo ponto a celebrar é que os britânicos parecem prontos a tomar outras medidas para reanimar os mercados monetário e de crédito. O elemento mais vistoso disso gira em torno de injeções de capital nos mercados. Mas igualmente importante seria uma promessa pública de que os títulos de dívida emitidos pelos bancos seriam protegidos contra calotes.
Essas providências são cruciais.
Até o mês passado, os investidores norte-americanos e europeus presumiam que os títulos emitidos por grandes bancos fossem seguros.
Mas a maneira como o Lehman Brothers entrou em colapso eliminou essa crença, deflagrando catastróficas decisões motivadas pelo medo. O aparente fracasso do Fed quanto a antecipar esse choque representa um dos maiores erros da instituição em termos de política econômica. O anúncio de ontem sugere que as autoridades britânicas não tencionam permitir que esse erro se repita.
O terceiro motivo de celebração nada tem a ver com razões financeiras, e sim com a sociologia. No momento, temos muitos eleitores furiosos com os banqueiros. Com razão. Quando uma crise bancária varreu o Japão, os banqueiros demonstraram publicamente seu remorso; desta vez, será raro ouvir um banqueiro ocidental pedindo desculpas.
Não há garantia de que o governo britânico seja capaz de atenuar essa raiva, mas as autoridades ao menos prometeram impor mais "disciplina" aos banqueiros. É mais do que Washington ofereceu até agora.
Nada garante que o Reino Unido agora possa pôr fim aos problemas de seu setor bancário, quanto menos evitar uma recessão. Ao contrário das crises do Japão e da Suécia, a que vivemos é internacional. Como resultado, as fortunas das finanças britânicas dependem bem mais do que as autoridades do país podem fazer.
Mas, com um pouco de coordenação internacional -e uma dose generosa de sorte-, Londres agora tem a chance de estabilizar seu sistema bancário. No mínimo, a próxima geração de banqueiros deveria ser forçada a iniciar sua carreira dedicando tempo necessário a estudar os livros de história das finanças.
GILLIAN TETT é editora de mercados de capitais do "Financial Times"
Tradução de PAULO MIGLIACCI