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7 de outubro de 2008 |
Warren Buffet do éter A Bolsa de Valores despencou uns quarenta por cento desde que Kaká passou a anunciar uma corretora financeira on-line. Quem notou esse fato alarmante foi Rocco Cotroneo. Ele é o correspondente no Rio de Janeiro do jornal italiano Corriere della Sera. Mais importante do que isso: ele é torcedor do Inter, rival do Milan, o time de Kaká. O comercial é reprisado continuamente no canal Bloomberg, entre uma queda de mil e quinhentos pontos no Ibovespa e outra queda de sete e meio por cento do real diante do dólar. Ainda mais revelador do que o comercial com Kaká é o comercial com Neto, o antigo meio-campista do Guarani, que anuncia uma corretora on-line concorrente à de Kaká. A idéia de que alguém, na hora de decidir seu futuro financeiro, possa levar minimamente em conta o testemunho de Neto explica, por si só, a crise da economia mundial, do comportamento do mercado de derivativos de Cingapura ao tombo do valor do cobre, que está debilitando seriamente a economia chilena. Ao analisar a origem do estrangulamento do crédito internacional, o Wall Street Journal e o Financial Times sempre se referem à Fannie Mae e às suas hipotecas podres. Na verdade, deveriam se concentrar em Kaká e em Neto. O fato de haver investidores dispostos a seguir seus conselhos demonstra que tudo está prestes a desmoronar. Nas últimas semanas, tornei-me um espectador fanático do canal Bloomberg. Fico o dia todo sintonizado nele, acompanhando aquela linha que passa no pé da tela, com a cotação atualizada dos mercados. Tento adivinhar seus movimentos. O Dow vai subir? Vai descer? E a moeda? Ganha um centavo? Perde um centavo? O que vem agora? Vermelho ou verde? É muito melhor do que assistir a uma corrida de cachorros, porque a aposta se renova de segundo em segundo. É muito melhor do que erguer um hotel na Pennsylvania Avenue, no Banco Imobiliário. Me transformei numa espécie de especulador virtual, num Warren Buffett do éter. Funciona da seguinte maneira: eu vejo passar na tela o preço da ação da General Motors. Aposto mentalmente se, na passagem seguinte, dali a dez minutos, ela terá se valorizado ou, pelo contrário, caído. Depois fico de olho na TV, à espera do resultado. Quando acerto, comemoro meu enriquecimento fictício queimando uma nota de dez reais. Quando erro, penitencio-me esmagando o dedo na porta. Já perdi duas unhas por causa da General Motors. Alguns dias atrás, Lula comparou a crise financeira a uma "marolinha". Dilma Rousseff declarou que seu impacto no Brasil será igual a uma "pequenininha gripe". Se é assim que se pensa, proponho entregar o governo diretamente a Kaká e Neto. Eles podem dirigir a economia do país de seu computador portátil, pela internet, em casa. |
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