Folha de S.Paulo EDITORIAL,
Autoridades têm meios de prevenir efeitos indesejáveis da crise no país, como a escassez no crédito para exportar
A AVALANCHE destruidora da crise global, que não pára de fazer vítimas entre instituições financeiras, amplia o medo e a insegurança dos investidores. Nesses momentos, eles procuram ficar líquidos -isto é, com o máximo de dinheiro vivo à disposição-, de preferência em dólar, o que explica a grande fuga para a moeda americana, apesar de os EUA, cambaleantes, estarem no epicentro do terremoto.
A desconfiança prejudica o fluxo de recursos entre instituições bancárias, algo tão vital para o funcionamento do sistema financeiro quanto oxigênio para o organismo. As taxas de juros cobradas por um banco para emprestar a outro vão às nuvens, o que redunda em paralisias súbitas do crédito interbancário, como aconteceu novamente ontem nos países desenvolvidos.
Sem os bilionários empréstimos de emergência oferecidos pelos bancos centrais, o risco de uma bancarrota abrupta e em cadeia seria altíssimo.
Embora desconectados das operações especulativas que desencadearam a crise a partir dos EUA, bancos e empresas brasileiros já enfrentam dificuldades para acessar linhas de crédito. Até mesmo empréstimos para exportações, operações de baixíssimo risco, foram afetadas, o que não acontecia desde a derrocada do real de 2002.
Nos negócios entre bancos domésticos, também há sinal de dificuldade para obter dinheiro emprestado. Cerca de 8% do crédito no Brasil depende de recursos externos, agora escassos, caros e de prazos mais curtos. Além disso, a insegurança dos investidores, que se alastra também por razões psicológicas, favorece a concentração de dinheiro vivo nos grandes bancos brasileiros.
A fim de facilitar o fluxo de recursos para instituições médias e pequenas, o Banco Central afrouxou, na semana passada, as regras sobre empréstimos compulsórios, a parcela dos depósitos que os bancos comerciais são obrigados a manter retida no BC. Para evitar desfechos indesejáveis dessa crise no país, a manipulação diligente da reserva de R$ 259 bilhões (valor de agosto), oriunda do compulsório, é um dos mais ágeis instrumentos à mão das autoridades locais.
Outro instrumento que poderia ser acionado, em caso de a escassez do crédito à exportação tornar-se severa e duradoura, são as reservas internacionais do país, acumuladas no período de bonança. Trata-se de uma opção melhor, para o contribuinte, do que a de utilizar recursos do Tesouro, como estuda o Planalto.
Na hipótese do prolongamento da fase aguda desta crise, será essencial assegurar a oferta de crédito para que o país continue exportando. A geração de receitas em moeda estrangeira é estratégica num período de violenta turbulência internacional.
Entrevista:O Estado inteligente
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