No início de 2009, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deverá realizar seu primeiro leilão de compra de energia eólica. Foi o que garantiu segunda-feira o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que acrescentou: “Será o primeiro de uma série.”
O Brasil é um anão entre os produtores dessa que está entre as fontes de energia que menos agridem o meio ambiente. Possui o maior parque eólico da América Latina, com 247,1 MW, que, no entanto, ocupa apenas 0,3% da matriz energética nacional.
No ranking global, liderado pela Alemanha (22,2 mil MW instalados), Estados Unidos (16,8 mil MW) e Espanha (15,1 mil MW), ocupa apenas a 25ª posição.
O Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, elaborado pela consultoria Camargo-Schubert, mostra que o Brasil possui potencial de 143,4 mil MW, o equivalente à capacidade de geração de dez usinas de Itaipu. Do total, cerca de três quartos estão localizados no Nordeste. Isso coloca o País na mira dos interessados globais no aquecido mercado de geração de energia limpa, no qual se incluem ainda a hidrelétrica e a biomassa.
Mas os investimentos estão longe da decolagem. O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), lançado em 2002 pelo governo federal, está emperrado.
A previsão inicial de 3,3 mil MW gerados por usinas eólicas, de biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), a serem entregues até 2006, já teve seu prazo prorrogado para este ano e deve ser novamente esticado.
“A energia eólica já é competitiva com as fontes mais caras, como a nuclear e a térmica. O setor enfrenta falta de financiamentos a juros baixos”, queixa-se o professor de Planejamento Energético da Coppe (UFRJ), Roberto Schaeffer.
No fundo, os custos mais altos de produção continuam sendo os maiores obstáculos para o desenvolvimento do potencial brasileiro. A energia eólica dispensa matérias-primas ou insumos, como é o caso da energia térmica (a gás, óleo combustível ou carvão). Mas enfrenta alto custo de capital, hoje puxado pela forte demanda global por turbinas. A Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, na sigla em inglês) mostra que esse mercado cresceu dez vezes na última década (30% só no ano passado).
“Há cinco anos, com capital de US$ 1 milhão, dava para instalar equipamentos para produção potencial de 1 MW. Hoje é preciso 70% a mais”, afirma Emerson Barecy, da Camargo-Schubert.
O custo médio de um megawatt-hora gerado por usina eólica varia entre R$ 200 e R$ 240. O de uma hidrelétrica é de R$ 140; e o de uma usina a biomassa, de R$ 150 a R$ 160.
Como aponta Barecy, essa diferença pode ter compensação. “As energias hidrelétrica e eólica são complementares. O período de ausência de chuvas é marcado pelo de aumento dos ventos, e vice-versa.”
Isso quer dizer que, nos períodos do ano em que os níveis dos reservatórios de água estiverem mais baixos, os moinhos das usinas eólicas estarão girando mais rapidamente, o que evitaria riscos de apagão durante a estiagem.
Enfim, para decolar, a energia eólica talvez precise de empurrões extras. “Os leilões exclusivos podem ser um deles”, afirma Schaeffer.