"Não podemos nos expor a um desgaste no momento em que haverá disputa eleitoral", explicou todo cândido o senador Tião Viana, esquecendo-se apenas de esclarecer qual o risco que correm os senadores 28 meses antes da próxima eleição para a renovação de dois terços de seus mandatos.
Nenhum, claro. Desgaste eleitoral zero, pois a disputa do "momento" referida por ele diz respeito a prefeitos e vereadores.
Fizesse algum sentido o argumento, o governo não teria inventado a CSS agora e submetido sua base na Câmara ao mesmo tipo de desconforto. Deixaria tudo para depois das eleições municipais.
A preocupação do Palácio do Planalto nada tem a ver com os destinos dos parlamentares junto ao eleitorado e sim com a relação do presidente Luiz Inácio da Silva com a sua popularidade.
Lula também não concorre a nada em outubro agora, tampouco (espera-se) concorrerá a coisa alguma em outubro de 2010. Mas, zeloso que é do posto de campeão absoluto de audiência, o presidente cultiva cuidado permanente com o perigo de arranhões à própria imagem.
Daí o adiamento. A vitória por dois votos na Câmara foi um desastre que antecipava uma surra histórica no Senado, a consolidação da derrota da CPMF em dezembro passado. Isso, de um lado.
De outro, havia perigo na eventualidade de uma vitória. Lula marcaria um gol político se ganhasse a CSS, mas como o imposto está acoplado à Emenda 29, que destina 10% do Orçamento para a saúde, e a proposta causa ojeriza ao Planalto, o presidente teria de prestar contas à vida real, assumindo o ônus de um veto antipático.
Assaz embaraçoso, diante do discurso oficial em defesa de mais verbas para a saúde.
Os senadores, quando trabalham pelo adiamento da votação da CSS, não agem em prol de seus interesses eleitorais, de resto inexistentes no momento.
Empenham-se, isto sim, para tirar o presidente da República de uma encruzilhada onde a cruz é representada pelo risco de uma derrota vergonhosa e a caldeirinha seria materializada no veto. Em ambas as situações, Lula seria o mais exposto: se perde de muito, mostra que nem sua base acredita no caráter benéfico do novo imposto; se veta a vinculação de recursos orçamentários para a saúde, fica desnudo na incongruência do próprio discurso.
A menos da ocorrência de fatos novíssimos, o quadro não se altera depois das eleições municipais. Aliás, sob o aspecto eleitoral, se houver mudança é para pior, pois ao fechamento das urnas nos municípios corresponderá a abertura oficial do processo de sucessão presidencial.
Se é difícil ressuscitar a CPMF agora, que dirá no meio do salve-se quem puder político-partidário-eleitoral que se instalará no País do fim do ano em diante. Dentro das regras normais, será impossível. O governo terá de arranjar uma outra saída para desatar o nó da Emenda 29, porque o adiamento da votação não resolve o problema. Só transfere a data da solução.
Sai de baixo
Na reta final do arranjo das candidaturas a prefeito, baixou a radicalização entre tucanos em São Paulo e petistas em Minas Gerais.
Deputados do PT mineiro formalizaram pedido de intervenção do Diretório Nacional na seção municipal, alegando descumprimento ao veto à aliança com o PSDB.
Em São Paulo, o clima entre os tucanos está de engalfinho total: os defensores de Gilberto Kassab acusam partidários de Geraldo Alckmin de urdir fraudes na convenção de domingo e estes acusam aqueles de fazer pressão indevida sobre convencionais para favorecer o prefeito.
Não por coincidência, os ânimos se alteram nos dois Estados governados pelos principais candidatos da oposição à sucessão do presidente Lula. Óbvio efeito de movimentos presentes submetidos às conveniências da agenda futura.
E se as coisas andam assim agora, quando o futuro chegar só tendem a piorar.
Cara ou coroa
Oficialmente, a cúpula do PSDB apóia integralmente as decisões do governador Aécio Neves em relação à aliança com o PT para a Prefeitura de Belo Horizonte, seja a união formal ou informal.
Extra-oficialmente, gente de peso na direção diz que o partido faz questão da formalidade e que Aécio subirá degraus na postulação pela legenda do partido para concorrer à Presidência em 2010 se conseguir levar o PT para uma coalizão oficial.
O governador daria, assim, uma prova definitiva de sua capacidade de neutralizar um poderoso adversário.
Como para isso seria preciso que o adversário aceitasse de bom grado ser neutralizado - e é a isso que o PT resiste -, ou o PSDB exige de Aécio o impossível, sabe-se lá com qual objetivo, ou tem jogo oculto dos dois lados nessa história.