O Morro da Providência é a primeira favela do Brasil. Fica no centro do Rio de Janeiro. Foi formada pelos soldados que sobreviveram a Guerra do Paraguai, pelos que retornaram da Guerra dos Canudos e pelos desalojados do cortiço Cabeça de Porco no fim do Século XIX.
Situada a importância histórica do Morro da Providência, vamos à história recente tingida pelo sangue de três jovens assassinados em condições não esclarecidas.
Ano passado, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) teve a idéia de aliar o útil ao agradável. Como engenheiro, elaborou o Projeto Cimento Social, cujo objetivo era ajudar as famílias a terminarem suas casas nas favelas cariocas. Para a sua pré-candidatura a Prefeitura do Rio de Janeiro nada melhor que uma amostra do que poderia ser feito em todas as favelas cariocas. Uma bela jogada de marketing eleitoral. Escolheu a favela do Morro da Providência por questões históricas.
Crivella foi ao presidente Lula e apresentou-lhe o projeto. O presidente ficou embevecido com a estratégia do candidato do seu coração a prefeito do Rio de Janeiro.
Lula bateu o martelo. Destinou R$ 12,6 milhões para a obra, que na primeira fase contempla 782 casas que receberão argamassa, pintura, portas e janelas, reforço estrutural e telhado para evitar a proliferação do mosquito da dengue nas comunidades carentes. O prazo de entrega seria julho/agosto de 2008.
O Exército foi encarregado de realizar a obra, também, segundo Crivella, por razões históricas, mas, também, pelo medo de entregá-la a uma empreiteira e ficar com guarda desguarnecida de ataques dos adversários.
O Exército relutou. Deu parecer contra, justamente porque Crivella era pré-candidato a prefeito e pelo perigo de um embate entre militares e traficantes que controlam a área, cujo fim era impossível de mensurar.
No parecer o general Luiz Cesário da Silveira Filho expressa aos superiores todos os perigos da missão. A possível contaminação dos soldados pela convivência com traficantes de drogas, a possibilidade de morte de civis devido a confrontos entre traficantes e militares e a falta de amparo legal.
Infelizmente, Lula e o ministro Jobim desconheceram o parecer e mandaram que a obra fosse tocada pelos militares.
No dia 12 de dezembro de 2007, soldados do Exército ocuparam a Favela do Morro da Providência para iniciar as obras do projeto, fruto de acordo de cooperação entre o Ministério das Cidades e o Exército. Em meados do primeiro trimestre de 2008, moradores da Providência foram recrutados, qualificados e usados na reforma das casas pelo o Exército que, também, dá garantia a segurança no canteiro de obras.
Corria tudo bem até que aconteceu o que os militares mais temiam.
O presidente Lula é o responsável pelo ocorrido, pois ordenou que tropas do Exército garantissem a execução do projeto criado pelo senador Marcelo Crivella, que lhe renderia votos como candidato a prefeito.
Lula preferiu contemplar os interesses políticos a concordar com um parecer técnico. Colocou o Exército a serviço do marketing eleitoral do senador Marcelo Crivella.
Essa infelizmente é a verdade nua e crua.