Mas, depois de duas horas de uma reunião de acompanhamento ("de rotina", disse o ministro Guido Mantega), a conclusão do miolo do governo foi a de que não há, por enquanto, o que fazer além do que já foi feito para virar o jogo.
Como os resultados só vêm com o tempo, na própria percepção do governo este ano já é batalha perdida, embora isso não será nunca admitido às claras. Muito provavelmente, a inflação rondará (se é que não passará) os 6,5% correspondentes ao teto da meta, os tais 4,5% acrescidos de 2 pontos porcentuais a título de área de escape.
É discutível a afirmação de que as providências tomadas até agora são suficientes para mudar tudo. Também é questionável outra afirmação, de que a inflação está sob controle, como insiste o ministro Mantega.
A correção das tarifas e dos demais preços administrados pelo IGP-M (veja o gráfico) tende a produzir enorme estrago e ainda não há sinais de que a alta internacional dos alimentos pare por aí.
O consumo interno no Brasil segue crescendo mais do que a oferta (produção interna mais importações) de mercadorias e serviços. Mais que tudo, as despesas correntes do governo avançam acima dos 12% ao ano ou a cerca de 6% em termos reais (descontada a inflação).
A preocupação com a disparada do crédito talvez não seja procedente. É um fator que favorece as vendas de bens duráveis, especialmente as de automóveis e de aparelhos domésticos. Mas, nesse setor, os preços estão relativamente contidos pelas importações.
A melhor decisão da hora teria sido novo reforço do superávit primário que implicasse cortes nas despesas correntes do setor público. Seria um jeito de conter o consumo e, ao mesmo tempo, de passar o recado para os agentes econômicos de que a inflação estaria sendo asfixiada com determinação.
No entanto, o governo optou por esperar para ver e essa omissão talvez seja suficiente para manter especialmente ativos os remarcadores de preços.
O ministro Mantega informou que o presidente Lula quer agora pressionar os governos dos países ricos para que ajam coordenadamente de maneira a coibir a especulação nos mercados futuros de commodities.
Não é para dar importância a gestões desse tipo. Mesmo que seja procedente o diagnóstico de que a escalada dos preços do petróleo e dos alimentos esteja relacionada com a ação dos especuladores nas bolsas internacionais de mercadorias, não há como intervir nesses mercados. Se houvesse, essa intervenção não seria eficaz e, se fosse, estaria prejudicando as operações legítimas de hedge (defesa) contra a alta dos preços futuros.
Negar a existência de especulação é um disparate. No entanto, neste momento, o especulador está tendo sucesso porque está tomando carona nos fundamentos altistas do mercado, e não porque o controle.
Confira
Não há como segurar - Ontem, o governo chinês anunciou reajustes de 15% e 17% nos preços dos combustíveis. Ficou claro que, a US$ 135 por barril de petróleo, a conta do consumidor assumida pelo setor público ficou insuportável.
São duas as conseqüências imediatas dessa alta. A primeira é a de que o consumo chinês deve ceder alguma coisa. E a segunda, a de que a atual inflação chinesa, de 8,5% ao ano, vai aumentar.
Este é um elemento adicional para afirmar que a China não é mais um exportador de deflação para o resto do mundo. Exporta inflação.