O Estado de S. Paulo |
11/6/2008 |
Pesquisas de opinião nem sempre conjugam realidade e percepção. O que é visto e ouvido no cotidiano dos cidadãos não necessariamente combina com o resultado das pesquisas. Por isso, não raro causam estranheza, despertam inconformismos, dão margem a diferentes interpretações e freqüentemente as discrepâncias levantam suspeitas quanto aos métodos e objetivos das consultas. Neste aspecto, a pesquisa divulgada ontem pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que aponta os partidos como as instituições com o menor grau de confiabilidade entre os brasileiros, pode ser vista como exceção, pois inquestionavelmente combina o que ocorre na realidade com a percepção que tem dela a sociedade. Os partidos conseguiram ficar abaixo do Poder Legislativo - estadual, municipal e federal - na lista de instituições menos confiáveis. Simplesmente 72% dos cidadãos não confiam nas agremiações responsáveis pela eleição dos representantes populares, encarregadas também do embate diário entre as forças políticas no Parlamento. É de se lamentar em nome da consistência da democracia, mas é de se registrar também, a bem dos fatos, o quanto suas excelências fizeram por merecer tão desonroso posto. Note-se que os entrevistados não julgaram a conduta individual dos políticos e ainda conferiram índices menos piores às Assembléias Legislativas, às Câmaras Municipais, ao Senado e à Câmara dos Deputados. Estão todos no vermelho, junto com as prefeituras e os empresários (não por coincidência parceiros constantes em escândalos de desvio de dinheiro por meio de convênios ou emendas ao Orçamento), mas os partidos amargam um definitivo último lugar. E por quê? Basicamente porque se comportam como entidades à parte das leis dos comuns e atuam de costas para a sociedade. Como podem ver na pesquisa, tal conduta não passa despercebida nem sai de graça. Não merecem respeito entidades que aceitam malfeitores em suas fileiras em troca de votos ou dinheiro; que acobertam todo tipo de falcatruas de seus filiados; que se acham no direito de calar quando seus governantes se envolvem em escândalos; que se vergam à vontade do Executivo; que reagem contra decisões saneadoras da Justiça; que se recusam a reformar a política. Não são dignas de confiança agremiações que fazem todo tipo de acordo espúrio no Parlamento em nome de seus interesses, deixando de lado o dever conferido a elas pelo eleitorado. Acabou de acontecer na CPI dos Cartões Corporativos, mas já havia acontecido quando da absolvição de parlamentares infratores do decoro e acontece diariamente nas articulações nebulosas invariavelmente traduzidas por uma versão mentirosa. Uma hora o PT passa a mão na cabeça de seus transgressores, na outra o PMDB se solidariza com um ex-governador acusado de chefiar quadrilha e o PSDB fica quieto ante o afundamento do governo do Rio Grande do Sul sob os escombros de denúncias de corrupção. Isso para não falar das pequenas legendas sempre à venda no mercado do fisiologismo perfeitamente constituído. E, por favor, convém aos partidos olhar em seus espelhos antes de cederem à ousadia de classificar a pesquisa como um ato de afronta à democracia. Santinho Goste ou não o PT, o material de campanha de Márcio Lacerda, candidato a prefeito de Belo Horizonte pelo PSB, terá a legenda do PSDB como partido aliado. Todos por um A idéia do governo de limitar a atuação dos ministros às campanhas municipais de seus respectivos Estados de origem nada tem a ver com medidas preventivas do uso da máquina pública ou obediência à legislação eleitoral. Por hipótese: o ministro amazonense que viaja a Manaus em avião oficial fazendo coincidir compromissos eleitorais com a agenda ministerial cumpre a regra do Palácio, mas infringe a lei. Já um outro, digamos, baiano, pode rodar o País atuando em prol dos candidatos de seu partido por seus próprios meios, longe dos dias de expediente e sem usar nenhuma prerrogativa do cargo. Estará fora do compasso determinado pelo Planalto, mas dentro dos limites da lei. Os ministros representantes dos diversos partidos da coalizão federal não gostaram da invenção. Principalmente porque não ficou claro qual o objetivo político de mantê-los geograficamente restritos. Obviamente, a regra deixa de fora o presidente da República, cujos planos para 2010 não necessariamente coincidem com os interesses subjacentes aos movimentos que alguns desses partidos fazem agora, já pensando em novas parcerias para a sucessão presidencial. Por isso, não convence a alegação do governo de que sua intenção é “preservar a base”. O gesto é lido como pretensão de “reservar a base” para o projeto de Lula para 2010. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, junho 11, 2008
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