Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 11, 2008

Celso Ming - Um PIB robusto



O Estado de S. Paulo
11/6/2008

O desempenho da economia segue acima do padrão médio dos últimos dez anos, o que mostra mudança importante na qualidade.

O avanço anual do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 5,8% no primeiro trimestre do ano, tanto quando comparado com o primeiro trimestre de 2007 como tomando como base os últimos quatro trimestres comparados com os quatro anteriores.

Nos últimos meses, economistas de várias tendências usaram expressões diferentes para apresentar a mesma coisa. Houve os que disseram que o País vive uma fase de crescimento sustentado. Outros, que este deixou de ser o vôo da galinha, que é curto e quase não sai do chão. É a economia pegando velocidade de cruzeiro.

A novidade pode ser explicitada por algumas qualidades. A economia está mais previsível; os riscos (de crise financeira, cambial ou política, de descontrole da inflação ou de súbita mudança nas regras do jogo) são mais baixos; a dívida soberana do Brasil já adquiriu grau de investimento (ou seja, inspira mais confiança); e, embora o setor público continue gastando demais, vai sendo observado um superávit primário mínimo (sobra de arrecadação para pagamento da dívida).

Em quatro trimestres acumulados, a indústria cresce 6,0% ao ano; o comércio, 7,9%; e a construção civil, 6,5% - o que não é pouco.

Esses números são empurrados por dois fatores imediatos: aumento da massa salarial (6,3% em 12 meses) e aumento do crédito (30,9%). Mas, por trás deles, está o salto das despesas correntes do governo que, neste ano, é de cerca de 7,0% em termos reais (descontada a inflação).

O consumo interno, que no trimestre anterior cresceu 3,4%, mostrou desaceleração (crescimento de apenas 0,3%). Não está claro qual é o número fora da curva, se o anterior ou esse. Para o Banco Central, é a demanda interna que corre a um ritmo superior ao da capacidade de suprimento da oferta (produção interna mais importações), uma equação que injeta mais gás na chama da inflação. Se for confirmada a desaceleração da demanda interna, os juros talvez não precisem subir quanto estão subindo.

Os dirigentes da Fiesp argumentam que a força dos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) se encarregará de acabar com essa diferença. Embora também tenham desacelerado, os investimentos continuam mostrando força, 14,2% na acumulada de quatro trimestres.

O problema aí é a base baixa demais. Os investimentos correspondem hoje a pouco mais de 18% do PIB, quando teriam de ser algo em torno de 25%. Além disso, 42% deles são cobertos pela construção civil e não propriamente por aumento da capacidade de produção.

O presidente Lula está certo quando festeja os resultados e, mais do que eles, festeja a maior confiança adquirida na capacidade de criação de empregos e de consumo.

Mas a comemoração esconde dois riscos. O primeiro é o de que o governo se apegue a esses resultados e se esqueça tanto das reformas como da derrubada da carga tributária, que tira competitividade do produto nacional.

O outro risco é o de o governo achar que, fortalecida a economia, pode rolar na gastança sob a justificativa de que é preciso montar as bases para seus objetivos eleitorais.


Confira

Administração de risco - O relatório de junho, ontem divulgado, da Agência Internacional de Energia adverte que é preciso aprofundar as explicações sobre a escalada dos preços do petróleo. (A Agência é um organismo financiado pelos consumidores de petróleo.)

Diz o relatório: “É claro que os especuladores estão envolvidos no salto dos preços, mas é mais correto defini-lo como resultado de administração de risco do que de especulação.”

Mas qual é o risco? “Não se trata de risco geopolítico. É a situação do suprimento que se mantém no limite.”

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