RIO DE JANEIRO - A última estratégia de sobrevivência de Renan Calheiros é escarafunchar a vida dos senadores que insistem em julgá-lo e investigar os seus parentes e amigos em busca de sujeiras capazes de provar, não a sua inocência, mas a sua tese: ninguém ali tem autoridade moral para condená-lo. Uma tese que honra, eleva e consola o Senado que ele presidia.
Sabe-se que cerca de um terço dos senadores são donos, direta ou indiretamente, de emissoras de rádio e televisão, arma tradicional dos políticos brasileiros, concessões dadas pelos diversos governos em troca de outras concessões, políticas e fisiológicas. Será que isso os desqualifica para julgar e condenar um colega que comprou -com laranjas e dinheiro de origem duvidosa- uma rádio e um jornal em Alagoas?
"Eu odeio a hipocrisia, é a mentira da mentira". A frase não é nem poderia ser de nenhum político brasileiro, mas do filósofo carioca Tim Maia, certamente o mais indicado para dar embasamento acadêmico à tese renanziana. Ou à sua antítese: ninguém mais qualificado para julgar bandidos do que outros bandidos, experts no ramo, mais difíceis de enganar do que os juízes honestos.
Entre chantagens, intimidações e coações, o Senado chafurda na lama. Seu ex-presidente não pode sair às ruas em nenhum lugar do Brasil, fora Murici, sem ouvir escárnios e escórcios. Nem seu ex-líder Collor foi tão esculachado e desmoralizado na mídia conservadora ou progressista; nenhum político, nem Severino ou Maluf, foi tão ridicularizado por humoristas e cartunistas. Quase chega a dar pena.
O corolário da tese calheiro-gramsciana da "culpa coletiva" e da "desqualificação moral" de seus julgadores é que, se alguém como ele pôde presidir o Senado do Brasil, então tudo é permitido.
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, outubro 12, 2007
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