Suely Caldas*
Em 1997 a Vale estatal pagou à União US$ 110 milhões em impostos e dividendos. Depois de nove anos de privatização, em 2006, essa quantia saltou 23 vezes para US$ 2,6 bilhões.
Nesse mesmo período, o número de empregados cresceu cinco vezes, de 11 mil para 56 mil.
As exportações triplicaram, de US$ 3 bilhões para US$ 9 bilhões.
A produção expandiu de 100 milhões de toneladas para 250 milhões.
Entre 1943 e 1997, portanto em 54 anos de controle estatal, a Vale investiu a soma de US$ 24 bilhões. Em apenas seis anos de gestão privada, entre 2001/2006, ela aplicou US$ 44,6 bilhões em investimentos, criando riqueza para o País.
São números que impressionam: em pouco tempo de gestão privada a empresa mudou, expandiu, prosperou, empregou e, em conseqüência, passou a destinar ao Tesouro e aos brasileiros quantias em dinheiro 20 vezes maiores do que na época em que o Estado era seu único proprietário. O que há por trás disso? Alguns fatores, mas o fundamental é a diferença na qualidade e na eficiência entre gestões privada e estatal. Nem sempre a culpa recai sobre o gestor público, incapaz e ineficiente, nem na estrutura inchada e emperrada da estatal. Os dois não são causa, são decorrência de um mal maior enraizado e espalhado em todos os espaços públicos brasileiros: a ruinosa influência política comandando tudo, da ocupação de cargos de direção a favores aos amigos, práticas de corrupção, negócios nocivos aos cofres da estatal e benéficos a pessoas ou partidos políticos. O mensalão, os escândalos do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e Furnas e Correios, a ação dos vampiros no Ministério da Saúde são apenas alguns exemplos recentes. Mas há outros históricos de escancarado uso político que causaram enorme mal ao País e aos brasileiros:
Na pré-moratória de 1982 o ex-ministro Delfim Netto usou as estatais para tomar empréstimos no exterior que iam direto para o caixa do governo, agravando o endividamento e os prejuízos financeiros das empresas.
Empréstimos impagáveis feitos pelo Banco do Brasil (BB) e bancos estaduais a amigos de presidentes da República e de governadores. Só para citar dois: crédito milionário do BB para a empreiteira Mendes Junior, no final da gestão Sarney, e inúmeros outros do antigo Banespa para financiar campanhas eleitorais de políticos em São Paulo. Carteira de calotes lotada, os bancos estatais só não faliram depois do Plano Real porque o Tesouro (leia-se o contribuinte) os socorreu com quantias expressivas de dinheiro.
As distribuidoras estaduais de energia elétrica foram usadas ao longo da existência para abastecer cofres de governadores e campanhas eleitorais deles, de prefeitos e de companheiros de partido.
A prática de uso político de estatais não é episódica nem pontual, é generalizada e está enraizada em todas elas. Tudo começa com a nomeação de diretores por indicação de um partido político. Como fez exageradamente o presidente Lula em quase cinco anos de gestão. Não escaparam nem as jóias da coroa: Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Correios, Eletrobrás, Furnas, Chesf, Eletronorte, todas entraram na dança e têm diretorias loteadas. Com o diretor empossado começam cobranças de lealdade (com os partidos, não com o País) e pedidos de favores, com inevitável prejuízo para a estatal e graúdas mesadas aos favorecidos. Não sobra espaço para gestão eficiente.
A privatização não se justifica só por isso, embora o primeiro impacto positivo se dê por aí. No caso das teles, por exemplo, não só a gestão privada garantiu acesso da população pobre à telefonia, como o País se livrou de políticos em mais 300 cargos - o que certamente aumentaria a sangria de R$ 55 milhões que circulou pelo valerioduto.
Quem no Brasil quer desenvolvimento, empregos, investimentos e prosperidade não pode ser contra a privatização. O bom exemplo da Vale se multiplica, não é isolado. O que impressiona é a paralisia da oposição, a fraqueza em enfrentar oportunistas que exploram a desinformação popular brandindo um falso e ultrapassado estatismo.
*Suely Caldas é economista. E-mail: sucaldas@terra.com.br